
Diante da pressão do Ministério Público de São Paulo e de ambientalistas, a Prefeitura de Campinas anunciou que irá rever o projeto de construção de reservatórios de contenção de enchentes na Praça Ralph Stettinger, na região do Cambuí. A proposta original previa a supressão de 386 árvores, muitas delas nativas, como Pau-Brasil, Ipês, Cássia e Palmeira Jussara — algumas com mais de 25 metros de altura.
- Clique aqui para fazer parte da comunidade da Sampi Campinas no WhatsApp e receber notícias em primeira mão.
A informação foi confirmada nesta quinta-feira (27) pela Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinfra), responsável pelo plano. O projeto ainda não está finalizado e, segundo a pasta, os técnicos buscam uma solução de engenharia que preserve o maior número possível de árvores, o que representa uma mudança importante na condução da obra.
A decisão ocorre após o caso ganhar repercussão pública, com Audiência Pública marcada para esta sexta na Câmara, e se tornar alvo de investigação da 12ª Promotoria de Justiça de Campinas, especializada em meio ambiente. A apuração começou a partir de uma denúncia anônima, que alertava para o risco ambiental associado à obra e apontava até possível favorecimento a um empreendimento imobiliário vizinho, que ocupará o terreno do antigo estádio do Guarani.
A promotoria requisitou explicações formais da Seinfra e da Secretaria do Verde (SVDS) e recebeu como resposta um ofício da própria Prefeitura, no qual foi detalhado que o corte de 386 árvores era previsto. O processo foi prorrogado por mais 90 dias para análise técnica aprofundada e acompanhamento do licenciamento ambiental junto ao DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica).
A Praça Ralph Stettinger está situada em um dos pontos mais arborizados da avenida José de Sousa Campos (Norte-Sul), e abriga vegetação densa, árvores centenárias e uma rica biodiversidade. O risco de impacto ambiental causou forte reação nas redes sociais, em grupos de moradores e entre pesquisadores da área ambiental.
De acordo com o secretário Carlos José Barreiro, a proposta em revisão será parte de um grande plano de combate a enchentes em Campinas. “Cada uma das oito obras de macrodrenagem exige projeto específico e estudo técnico para reduzir ao máximo os impactos ambientais. O da Norte-Sul ainda está em fase de elaboração e será ajustado para preservar as árvores”, garantiu Barreiro.
O plano antienchente da Prefeitura inclui a construção de oito reservatórios subterrâneos, com orçamento total de R$ 1 bilhão. Parte dos recursos — cerca de R$ 503 milhões — vem de financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), com contrapartida de R$ 55,9 milhões do município. A obra no Cambuí seria a terceira do cronograma.
A primeira etapa está em andamento na região do Jardim Paranapanema, onde o Reservatório RP-1 está sendo construído com estrutura coberta e capacidade para contenção de cheias. A segunda, na Praça da Ópera, no Centro, está em fase de licitação e terá capacidade para 80 milhões de litros.
Apesar do recuo da Prefeitura, o caso continuará sob análise do Ministério Público. O promotor responsável pelo procedimento, José Fernando Vidal de Souza, também solicitou atualização do DAEE sobre os trâmites de outorga e estudo hidrológico da bacia do córrego Proença, fundamental para avaliar o impacto da obra.
Especialistas ouvidos por entidades ambientais têm alertado que o corte de árvores urbanas em larga escala, mesmo com compensações, pode comprometer o microclima da cidade e contribuir para aumento de temperatura em regiões já afetadas por ilhas de calor. “Essas árvores não são apenas ornamento. Elas representam décadas de história ambiental urbana e prestam serviços ecossistêmicos essenciais para o equilíbrio climático e a biodiversidade”, destacou uma das lideranças ambientais que acompanha o caso.
A administração municipal reforça que qualquer intervenção será precedida de licenciamento ambiental e que, quando necessário, haverá compensações ambientais formalizadas por meio de um Termo de Compromisso Ambiental (TCA).