QUASE 400 ÁRVORES

Prefeitura vai rever projeto que ameaça árvores da Norte-Sul

Por Flávio Paradella | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 3 min
Reprodução/Google
Projeto de reservatórios, em Campinas, que estimava corte de 386 árvores na Praça Ralph Stettinger, será revisto após pressão do Ministério Público.
Projeto de reservatórios, em Campinas, que estimava corte de 386 árvores na Praça Ralph Stettinger, será revisto após pressão do Ministério Público.

Diante da pressão do Ministério Público de São Paulo e de ambientalistas, a Prefeitura de Campinas anunciou que irá rever o projeto de construção de reservatórios de contenção de enchentes na Praça Ralph Stettinger, na região do Cambuí. A proposta original previa a supressão de 386 árvores, muitas delas nativas, como Pau-Brasil, Ipês, Cássia e Palmeira Jussara — algumas com mais de 25 metros de altura.

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A informação foi confirmada nesta quinta-feira (27) pela Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinfra), responsável pelo plano. O projeto ainda não está finalizado e, segundo a pasta, os técnicos buscam uma solução de engenharia que preserve o maior número possível de árvores, o que representa uma mudança importante na condução da obra.

A decisão ocorre após o caso ganhar repercussão pública, com Audiência Pública marcada para esta sexta na Câmara, e se tornar alvo de investigação da 12ª Promotoria de Justiça de Campinas, especializada em meio ambiente. A apuração começou a partir de uma denúncia anônima, que alertava para o risco ambiental associado à obra e apontava até possível favorecimento a um empreendimento imobiliário vizinho, que ocupará o terreno do antigo estádio do Guarani.

A promotoria requisitou explicações formais da Seinfra e da Secretaria do Verde (SVDS) e recebeu como resposta um ofício da própria Prefeitura, no qual foi detalhado que o corte de 386 árvores era previsto. O processo foi prorrogado por mais 90 dias para análise técnica aprofundada e acompanhamento do licenciamento ambiental junto ao DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica).

A Praça Ralph Stettinger está situada em um dos pontos mais arborizados da avenida José de Sousa Campos (Norte-Sul), e abriga vegetação densa, árvores centenárias e uma rica biodiversidade. O risco de impacto ambiental causou forte reação nas redes sociais, em grupos de moradores e entre pesquisadores da área ambiental.

De acordo com o secretário Carlos José Barreiro, a proposta em revisão será parte de um grande plano de combate a enchentes em Campinas. “Cada uma das oito obras de macrodrenagem exige projeto específico e estudo técnico para reduzir ao máximo os impactos ambientais. O da Norte-Sul ainda está em fase de elaboração e será ajustado para preservar as árvores”, garantiu Barreiro.

O plano antienchente da Prefeitura inclui a construção de oito reservatórios subterrâneos, com orçamento total de R$ 1 bilhão. Parte dos recursos — cerca de R$ 503 milhões — vem de financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), com contrapartida de R$ 55,9 milhões do município. A obra no Cambuí seria a terceira do cronograma.

A primeira etapa está em andamento na região do Jardim Paranapanema, onde o Reservatório RP-1 está sendo construído com estrutura coberta e capacidade para contenção de cheias. A segunda, na Praça da Ópera, no Centro, está em fase de licitação e terá capacidade para 80 milhões de litros.

Apesar do recuo da Prefeitura, o caso continuará sob análise do Ministério Público. O promotor responsável pelo procedimento, José Fernando Vidal de Souza, também solicitou atualização do DAEE sobre os trâmites de outorga e estudo hidrológico da bacia do córrego Proença, fundamental para avaliar o impacto da obra.

Especialistas ouvidos por entidades ambientais têm alertado que o corte de árvores urbanas em larga escala, mesmo com compensações, pode comprometer o microclima da cidade e contribuir para aumento de temperatura em regiões já afetadas por ilhas de calor. “Essas árvores não são apenas ornamento. Elas representam décadas de história ambiental urbana e prestam serviços ecossistêmicos essenciais para o equilíbrio climático e a biodiversidade”, destacou uma das lideranças ambientais que acompanha o caso.

A administração municipal reforça que qualquer intervenção será precedida de licenciamento ambiental e que, quando necessário, haverá compensações ambientais formalizadas por meio de um Termo de Compromisso Ambiental (TCA).

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