OPINIÃO

Abandono afetivo dos idosos


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O envelhecimento da população tem se tornado uma preocupação crescente em muitas regiões do mundo, e a América Latina não é exceção. A região tem visto uma rápida transição demográfica, com um aumento significativo no número de pessoas idosas, o que tem gerado desafios tanto para os sistemas de saúde quanto para as estruturas familiares e sociais. Nesse contexto, um problema particularmente grave tem se destacado: o abandono afetivo dos idosos pela família. O abandono afetivo vai além da negligência física e material, abrangendo também o abandono emocional e psicológico, que tem consequências profundas para a saúde e o bem-estar dos idosos, bem como para a coesão social.

A situação econômica e social também desempenha um papel importante no abandono afetivo dos idosos. Muitos filhos enfrentam dificuldades financeiras e problemas de emprego que tornam difícil cuidar dos pais. Além disso, a pressão para atender às exigências do mercado de trabalho e proporcionar uma vida confortável para a própria família leva ao afastamento emocional e físico dos idosos. A falta de políticas públicas adequadas para o suporte à família, como benefícios sociais e serviços de apoio ao idoso, também contribui para essa desconexão.

O abandono afetivo tem consequências devastadoras para a saúde e o bem-estar dos idosos.

1.  Saúde mental e emocional

A falta de contato social e o isolamento emocional contribuem para o aumento da depressão, da ansiedade e de outros distúrbios mentais nos idosos. O abandono afetivo pode levar ao sentimento de inutilidade, baixa autoestima e solidão. A ausência de apoio emocional da família é um fator de risco significativo para o desenvolvimento de doenças mentais, como a depressão, que afeta uma parcela considerável da população idosa na América Latina.

2. Enfraquecimento do sistema imunológico

Estudos têm mostrado que o estresse emocional crônico, como o causado pelo abandono afetivo, pode enfraquecer o sistema imunológico dos idosos, tornando-os mais suscetíveis a doenças físicas. O isolamento social também tem sido associado ao aumento do risco de doenças cardíacas, hipertensão e outras complicações de saúde, como a diabetes e os problemas respiratórios.

3. Desintegração social

Quando um idoso é abandonado afetivamente, ele tende a se distanciar cada vez mais da sociedade. Isso pode levar ao afastamento das atividades sociais, o que pode resultar em um ciclo de isolamento ainda mais profundo. A falta de vínculos afetivos também reduz as chances de socialização e de manutenção da rede de apoio, prejudicando ainda mais o bem-estar geral.

O Papel das políticas públicas no combate ao abandono afetivo

Embora o abandono afetivo dos idosos seja um problema social complexo, políticas públicas podem desempenhar um papel fundamental na promoção do cuidado familiar e social aos mais velhos. Algumas iniciativas têm sido adotadas na América Latina, como a criação de leis de proteção ao idoso, programas de apoio psicossocial, e incentivos para o cuidado de idosos em casa ou em instituições de longa permanência. No entanto, essas políticas ainda são insuficientes e precisam ser ampliadas para atender à crescente demanda da população idosa.

É fundamental que as políticas públicas enfoquem não apenas a assistência material e médica, mas também a promoção de vínculos familiares e comunitários, a fim de reduzir o abandono afetivo. Além disso, é necessário criar campanhas de conscientização sobre os direitos dos idosos, o respeito às suas necessidades emocionais e a importância da preservação das relações familiares para garantir um envelhecimento digno e saudável.

O abandono afetivo dos idosos pela família é um problema sério que afeta profundamente a qualidade de vida dos idosos na América Latina. Esse fenômeno está relacionado a uma série de mudanças sociais, econômicas e culturais que enfraqueceram os laços familiares tradicionais e a responsabilidade pelo cuidado intergeracional. As consequências para os idosos são devastadoras, afetando sua saúde mental, emocional e física.

No entanto, a mudança dessa realidade passa pela conscientização da sociedade e pela implementação de políticas públicas que incentivem a criação de vínculos afetivos e o fortalecimento da rede de apoio aos idosos. A América Latina precisa repensar a forma como trata seus idosos, resgatando os valores de solidariedade e cuidado intergeracional e oferecendo suporte adequado para que todos possam envelhecer com dignidade e afeto.

Edvaldo de Toledo é empresário, enfermeiro, especialista em Gerontologia e Geriatria, Criador da Cuidare e Diretor de Saúde do Município de Pedra Bela. 
(atendimento@edvaldodetoledo.com.br)

Comentários

1 Comentários

  • Jussineide batista dos santos 5 dias atrás
    Nossos idosos, merecem nosso respeito, paciência, promover eventos sociais familiares,um pouco mais de atenção, deixando eles te independente deles ,os familiares atentos, medicação na hora certa....nossos idosos tem que ser amados, autoestima em dia...adotar tecnologia... Deus abençoe nossos idosos,que sempre foi nossos alicerce e fortaleza!