OPINIÃO

Seu corpo ouve tudo o que sua mente diz


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Se você já sentiu seu coração acelerar em um momento de nervosismo, dores musculares após dias de tensão ou um cansaço inexplicável em períodos de estresse, saiba que isso não é coincidência. O corpo e a mente estão profundamente conectados, e nossos pensamentos e emoções influenciam diretamente nossa postura, dores, energia e até nosso sistema imunológico. O que você diz para si mesmo todos os dias pode determinar como seu corpo reage e essa relação pode ser a chave para entender muitos dos desafios de saúde que enfrentamos.

Há uma enorme ligação entre emoções, postura e o sistema nervoso. Nosso corpo responde automaticamente às nossas emoções por meio do sistema nervoso autônomo, que regula funções involuntárias como respiração, batimentos cardíacos e digestão. Esse sistema se divide em duas partes principais: o simpático, responsável por ativar o estado de alerta (fuga ou luta), e o parassimpático, que promove o descanso e a recuperação.

Quando estamos sob estresse ou ansiedade, o sistema simpático entra em ação, preparando o corpo para reagir a uma ameaça, mesmo que essa ameaça seja um problema simples. Mas quando esse estado de alerta é constante, pode levar à tensão muscular, desequilíbrio postural, respiração superficial e aumento da pressão arterial. Por outro lado, quando estamos relaxados, o sistema parassimpático assume o controle, reduzindo a frequência cardíaca, melhorando a digestão e promovendo uma sensação de bem-estar. Isso tudo, na verdade, requer um equilíbrio.

O nervo vago, tão lembrado ultimamente, é uma das principais vias do sistema parassimpático, tem um papel fundamental nessa comunicação entre corpo e mente. Ele conecta o cérebro ao coração, pulmões e intestinos, influenciando a regulação emocional, a digestão e até a resposta inflamatória do organismo. Práticas como respiração profunda, alongamentos miofasciais e exercícios posturais ajudam a ativar o nervo vago, promovendo relaxamento e reduzindo os efeitos negativos do estresse.
Muitas dores musculares e articulares que sentimos não têm apenas origem mecânica, mas também emocional. A tensão acumulada no pescoço e nos ombros, por exemplo, pode estar associada a preocupações excessivas, enquanto dores na região lombar podem refletir estresse financeiro ou insegurança. Esse fenômeno ocorre porque o cérebro interpreta emoções intensas como uma ameaça, ativando o sistema simpático e tensionando a musculatura como uma forma de defesa.

O estresse crônico afeta também a qualidade do sono. Quando a mente permanece em alerta, a produção de cortisol, o hormônio do estresse, se mantém elevada, dificultando o relaxamento necessário para um sono reparador. Isso cria um ciclo prejudicial: noites mal dormidas aumentam a irritabilidade e a fadiga, reduzindo a capacidade do corpo de se recuperar e tornando-o ainda mais vulnerável a dores e inflamações. É preciso quebrar este ciclo!

Além disso, a relação entre postura e saúde mental é profunda. Estudos mostram que posturas curvadas e retraídas, comuns em estados de tristeza ou ansiedade, podem aumentar os níveis de cortisol e diminuir a produção de serotonina e dopamina, neurotransmissores essenciais para a sensação de prazer e equilíbrio emocional. Esse desequilíbrio pode contribuir para quadros de depressão e fadiga crônica.

A boa notícia é que podemos reverter esses processos através do movimento, exercícios de respiração, mindfulness, atividades físicas e melhora do estilo de vida, já que ajudam a reequilibrar o sistema nervoso, ativando o “modo parassimpático” e reduzindo o estado de alerta constante.

Além do movimento, as palavras que escolhemos para nos descrever também moldam nossas respostas fisiológicas. Se constantemente repetimos frases como “minha dor nunca passa” ou “estou sempre cansado”, nosso cérebro reforça essa percepção, prolongando o desconforto. Por outro lado, mudar essa narrativa para algo mais positivo, como “estou fortalecendo meu corpo” ou “estou aprendendo a me movimentar melhor”, pode estimular a neuroplasticidade, promovendo adaptações cerebrais que favorecem a recuperação e o bem-estar.

A conexão entre corpo e mente é inegável. Cada pensamento, cada emoção e cada palavra que você repete influenciam diretamente a postura, a energia e a saúde. Se seu corpo ouve tudo o que sua mente diz, talvez seja hora de mudar o que você está dizendo a si mesmo. Muita saúde a todos.

Liciana Rossi é especialista em coluna e treinamento desportivo, pioneira do método ELDOA no Brasil (licianarossi@terra.com.br)

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