O mês de março, que se tornou o mês da mulher, é a ocasião propícia para uma reflexão sobre a condição feminina no mercado de trabalho. Em que pese todos os avanços dos últimos anos, a disparidade em relação aos homens permanece.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que, embora elas sejam maioria na população (51,8% com quinze anos ou mais), perfazem 43,7% da força de trabalho – formal ou informal – ganhando em média R$ 2.696 enquanto os homens recebem em média R$ 3.424.
O setor de serviços é o que tradicionalmente emprega mais mulheres. Na indústria, elas representam um quarto dos trabalhadores, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), e têm galgado cada vez mais cargos importantes.
As indústrias brasileiras têm se empenhado em aumentar a participação feminina em seus quadros, tanto na linha de produção quanto nos postos de gestão. Não custa lembrar que mais diversidade, com mais vozes ativas, visão de mundo e experiências diferentes contribuem para o aumento da competitividade nos negócios.
Dados do Observatório da Indústria, por exemplo, mostram que, em cargos de liderança no setor, a participação feminina cresceu de 24% em 2008 para 31,8% em 2021.
Vale destacar o importante programa gratuito desenvolvido pelo Conselho Superior Feminino (Confem) da Fiesp para a capacitação de mulheres para cargos de gestão, o “Elas na Indústria” que já atendeu 930 participantes.
O programa é voltado para mentorias de mulheres que buscam alcançar uma posição de gestão ou empreender no setor industrial. As inscrições para participar como mentorada desta sexta edição vão até a próxima sexta-feira, 21/3.
O “Elas na Indústria” conta com acompanhamento personalizado de mentoras líderes no setor, bem como ferramentas para desenvolver carreiras e habilidades de liderança.
O programa conecta mulheres de todo o país e amplia as oportunidades profissionais das participantes. Nesta edição, o número de sessões de mentoria passou de seis para oito a serem realizadas ao longo de oito meses.
As empresas industriais têm feito esforços para reduzir as disparidades, segundo pesquisa da CNI. Seis em cada dez indústrias adotam políticas de promoção de equidade de gênero, como programas de qualificação de mulheres, de liderança para estimular a ocupação delas em cargos de chefia, proibição de discriminação em função de gênero, entre outros.
A questão remuneratória, outro ponto relevante, agora é tratada pela legislação. A Lei de Igualdade Salarial, de 2023, determina que empresas com mais de 100 empregados devem adotar medidas para garantir a igualdade, incluindo transparência salarial, fiscalização contra discriminação, canais de denúncia, programas de diversidade e inclusão, e apoio à capacitação de mulheres.
De acordo com o Relatório de Transparência Salarial divulgado em setembro do ano passado, 20,7% das mulheres ganham menos do que os homens nas 50.692 empresas com mais de 100 empregados que forneceram as informações.
Por fim, vale ressaltar que a desigualdade de gênero não é um problema só no Brasil, é mundial. Segundo o Índice Global de Disparidade de Gênero 2024, do Fórum Econômico Mundial, temos avançado a passos lentos – ainda que constantes. O índice leva em conta participação econômica e política, nível educacional e saúde
Na toada atual, levará 134 anos para termos uma sociedade de fato igualitária. É preciso acelerar as mudanças, criando condições para alcançar a paridade o quanto antes.
Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)