OPINIÃO

O Brutalista


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Pra falar de “O Brutalista”, que está em todos as salas de cinema e foi o mais premiado desses raros filmes sobre arquitetura, judeus, imigração, romance e religião judaica, é preciso lembrar que conta a história, mais ou menos, real de um arquiteto com origem na escola Bauhaus de Dessau (1919- 1933), fechada por Hitler, mas que produziu designs como a cadeira tubular Breuer, um clássico do móvel moderno.

Escola moderna que foi, rompia com as ideias neo-clássicas, classicismos e outras manifestações de arquitetura, o que não agradou, nem agradaria, o regime nazista pela limpeza de adornos e principalmente por ensinar e tirar os elementos ornamentais da arquitetura, introduzindo uma linguagem e uma série de teorias que até agora predomina nos Curriculum das escolas de arquitetura e nos mobiliários de design, inclusive com repercussão nos nossos designers.

Mesmo assim, o brutalismo está mais nas interpretações de Le Corbusier (1887-1965), que vai além da escola brutalista e assume uma linguagem mais poética e deixa o concreto adquirir formas que não se faziam em arquitetura, e que se tornaram revolucionárias.

Em visita ao Rio em 1936, Corbusier com Niemeyer, Lucio Costa e outros arquitetos iniciam os planos urbanísticos para a sede do Ministério da Cultura, o Palácio Gustavo Capanema (1937), nosso monumento moderno maior. Depois de diversos estudos, que se encontram no MASP, decidem por aquele que reuniu nossos melhores arquitetos: Niemeyer e os artistas, designers e o paisagista também.

Em São Paulo vamos direto ao arquiteto Vilanova Artigas (1915-1985). Seu edifício da FAU USP é o melhor representante dessa arquitetura brutalista e paulista, definiu o que é e como tem que ser: a liberdade do desenho e a predominância do concreto como único elemento de construção do edifício, suas colunas inspiradas nas colunas jônicas com proporções perfeitas e que traz uma renovação forte e marcante da arquitetura paulista e é uma contribuição cultural, um ícone paulista da arquitetura do século XX. O número de projetos que fez é fantástico e alguns instigantes, como a garagem de barcos do Santa Paula Iate Clube (1961) que colocou uma imensa laje que tocava em pedras ou as passarelas de pedestres em diversos pontos de São Paulo. Os edifícios tombados pelo Condephaat foram muito poucos em relação à importância de sua obra. Fui parecerista defendendo essas casas e pontes, sem êxito. O que denota um desprezo pelo patrimônio moderno.

Por décadas, Artigas foi professor emérito da FAU, formou gerações de arquitetos e consagrou assim a arquitetura brutalista em projetos pelo interior, pelo estado e pelo país. Seu aluno, e depois companheiro na FAU, Paulo Mendes da Rocha, Prêmio Pritzker de arquitetura em 2006, é nosso mais reconhecido arquiteto de sua geração e escola, porém Lina Bo Bardi fez sua obra definitiva como arquitetura brutalista, o MASP e o SESC Pompeia. Ela é o arquiteto brutalista (dizia que não tinha feminino para arquiteto).

Em Jundiaí, o Araken também é aluno de Artigas. Fez a cara da cidade junto com seus contemporâneos Ademar Fernandes e os que não me lembro os nomes. Rubens Gaspari e Vasco Venchiarutti tinham uma linguagem mais ligada ao modernismo carioca formado pela Escola de Arquitetura da Escola Nacional de Belas Artes do Rio, e estudaram com Niemeyer entre outros.

Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista (edupereiradesign@gmail.com)

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