OPINIÃO

Brasil, Portugal e o acordo Mercosul-UE


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Neste ano, Brasil e Portugal completam 200 anos de relacionamento diplomático. Um relacionamento construído em sólidas bases em função dos laços históricos, culturais, políticos, econômicos e sociais que unem os dois países. A data foi celebrada na semana passada com a visita do primeiro-ministro português, Luís Montenegro, ao Brasil.

Além de encontros de alto nível em Brasília, Montenegro também marcou presença em São Paulo, na sede da Fiesp, onde participou de um fórum econômico com representantes do setor privado – no ano passado, a corrente de comércio bilateral foi de US$ 4,7 bilhões, sendo que as exportações do Brasil atingiram US$ 3,4 bilhões.

Durante a visita a Brasília, foram assinados acordos bilaterais em áreas como saúde, ciência e tecnologia, turismo, e segurança pública. Entre os anúncios, a confirmação de aquisição de 12 Super Tucanos pela Força Aérea Portuguesa; da parceira entre a indústria aeronáutica de Portugal e a Embraer para adaptação de aeronaves a padrões da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN); abertura de escritório da Embraer Defesa e Segurança em Lisboa; além da instalação de escritório de cooperação do Ministério das Relações Exteriores e da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), na capital portuguesa.

Neste momento em que o multilateralismo está sendo questionado – e mesmo deixado de lado pela maior potência mundial, os Estados Unidos –, o aprofundamento da parceria entre Brasil, onde vivem 150 mil portugueses, e Portugal, onde moram 500 mil brasileiros, é um ótimo sinal. E também um prenúncio da consumação do acordo Mercosul-União Europeia, que envolve um mercado com um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 22 trilhões e de mais de 700 milhões de pessoas.

Portugal é um defensor ferrenho do acordo e uma voz ativa por sua implementação junto aos demais 26 países da União Europeia. Na Fiesp, Luís Montenegro afirmou se tratar de uma chance que os dois blocos têm de agarrar. “E se não for capaz de fazê-lo, a Europa mostrará fraqueza, fragilidade, incapacidade de se afirmar como um grande player comercial e político no mundo”, sentenciou Montenegro, destacando que é uma oportunidade de ambas economias estarem menos dependentes de outros blocos comerciais. Não foi explicitado, mas os europeus temem a inserção cada vez maior da China na nossa região.

Também no fórum econômico, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, previu que Brasil e Portugal vão colher benefícios importantes com o acordo, previsto para o segundo semestre deste ano, após a ratificação pelos países dos dois blocos.

“Teremos uma sinergia, uma complementariedade ainda maior”, afirmou Alckmin. O entendimento do governo brasileiro é que o acordo fortalece o Mercosul, pois mostra sua capacidade de negociar tratados comerciais relevantes. Em outro evento na Fiesp, a secretária de Comércio Exterior do MDIC, Tatiana Prazeres, relatou que, desde a finalização do acordo, aumento o interesse de outros países no bloco sul-americano.

Cabe destacar que, com o crescimento do protecionismo no mundo e a iminência de uma guerra tarifária, o acordo entre Mercosul e União Europeia tem um simbolismo ainda maior, pois manda uma mensagem importante para o mundo: de que é possível negociar e fazer comércio com base em regras.

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)

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