É visível - basta acompanhar o noticiário - o progressivo aumento do volume e da frequência dos aguaceiros, causando enchentes avassaladoras, deixando um rastro de perda de vidas e destruição. E o que é pior: esses fenômenos climáticos serão, a cada dia, mais intensos e mais frequentes.
Cabe ao poder público municipal tomar medidas urgentes para enfrentar esse desafio, evitando o transbordamento dos rios e das galerias pluviais, de forma fazer com que as cidades sejam capazes de minimizar o potencial destruidor desses novos fenômenos.
A boa notícia é que já existe uma maneira de conseguir fazer isso: transformar a cidade como é hoje na nova “Cidade Esponja”, um conceito urbanístico que visa transformar áreas urbanas em espaços mais sustentáveis e resilientes. O termo vem da ideia de que as cidades devem absorver, filtrar e reutilizar recursos naturais, como água da chuva, de maneira eficiente.
Isso envolve práticas como o uso de telhados verdes, pavimentação permeável, áreas verdes expansivas e sistemas de drenagem que minimizam enchentes e melhoram a qualidade ambiental. Essas medidas não só ajudam na conservação dos recursos, mas também tornam as cidades mais agradáveis para se viver.
Várias cidades ao redor do mundo têm adotado o conceito de cidade esponja para combater enchentes e melhorar a resiliência urbana. Algumas das mais conhecidas são:
1. Xangai, China
A China tem sido uma das pioneiras no conceito de cidades esponja, e Xangai é um dos principais exemplos. O governo chinês lançou o programa Sponge Cities em 2015 para desenvolver infraestrutura urbana que absorva e reutilize a água da chuva. A cidade investiu em parques inundáveis, pavimentos permeáveis e telhados verdes.
2. Pequim, China
Pequim também adotou soluções de cidade esponja, criando zonas urbanas com maior absorção de água, restaurando rios e introduzindo superfícies permeáveis para evitar enchentes.
3. Copenhague, Dinamarca
Após severas inundações em 2011, Copenhague desenvolveu um plano de drenagem sustentável com parques que funcionam como reservatórios temporários e ruas que redirecionam a água da chuva para áreas seguras.
4. Nova York, EUA
Após a passagem do furacão Sandy em 2012, Nova York implementou o programa Rebuild by Design, que inclui zonas costeiras esponjosas, telhados verdes e melhorias na drenagem para reduzir o impacto de tempestades.
5. Londres, Reino Unido
Londres tem investido em infraestrutura verde, como jardins de chuva e parques com capacidade de absorção.
Essas abordagens variam de acordo com as condições locais e os desafios específicos enfrentados por cada cidade, mas todas compartilham o princípio de integrar soluções naturais e tecnológicas para mitigar o impacto das enchentes.
Várias cidades brasileiras estão começando a adotar os princípios do conceito de Cidade Esponja: São Paulo projeta criar áreas permeáveis e telhados verdes, Porto Alegre está investindo na revitalização de áreas ribeirinhas. Outras cidades como Curitiba, Belo Horizonte e Recife também estão implementando medidas para aumentar a permeabilidade do solo e melhorar a gestão das águas pluviais.
Frente à inação das grandes potências no combate ao aquecimento do clima, cabe aos municípios, com essas providências, tentar, com urgência, mitigar os seus devastadores efeitos.
Miguel Haddad é ex-prefeito de Jundiaí e ex-deputado federal