Se o setor industrial como um todo tem enfrentado grandes desafios nos últimos anos, para as indústrias de pequeno porte os obstáculos a serem superados têm sido ainda maiores, uma vez que têm menos margem de manobra para lidar com incertezas e cenários adversos.
Pesquisas realizadas pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) têm jogado luz sobre a realidade enfrentada por essas empresas. E os juros altos sempre estão no radar pelo impacto que causam na atividade industrial, que é muito atrelada às condições de crédito.
Os últimos dados mostram que, na passagem do terceiro para o quarto trimestre do ano passado – período que coincide com o início do ciclo de aumento da Selic pelo Banco Central –, as pequenas indústrias passaram a enxergar os juros altos como um problema maior do que antes.
Na construção civil, por exemplo, o percentual de indústrias de pequeno porte que apontam as taxas elevadas como um dos três principais problemas cresceu 10,5 pontos percentuais neste período.
É um setor muito afetado porque atinge tanto a demanda, uma vez que os imóveis ficam mais caros, quanto a oferta, devido ao maior custo para as construtoras.
Segundo 34,7% das pequenas empresas de construção, os juros altos deixaram de ser a terceira maior preocupação para se tornar o principal desafio. Na sequência, os problemas apontados são a elevada carga tributária (indicada por 33,9% das empresas) e a competição desleal (apontada por 23,7%).
Os juros altos também ganharam importância para as pequenas indústrias de transformação. Passaram da sexta para a quinta colocação no ranking de problemas, sendo apontados por 21,6% das empresas entrevistadas como uma das principais questões.
Para este universo de indústrias, o maior desafio enfrentado no último trimestre do ano continuou sendo a elevada carga tributária. Os impostos foram apontados como um dos três principais problemas por 39,9% das empresas, seguidos pela escassez ou alto custo de trabalhador qualificado (apontado por 26,9%) e pela falta ou alto custo de matéria-prima (apontado por 23%).
Vale destacar a maior preocupação com a taxa de câmbio. O percentual das indústrias de transformação de pequeno porte que indicam o câmbio como um dos três principais problemas cresceu 11,9 pontos percentuais entre o terceiro e o quarto trimestres de 2024 – subiu da 12ª para a sétima colocação no ranking de principais problemas.
De fato, o real perdeu expressivo valor para o dólar ao longo de 2024. A moeda norte-americana se valorizou 27% no período, com uma disparada no finalzinho do ano. Com isso, o Banco Central passou a intervir no câmbio. Mesmo com a oferta de dólares, o real se depreciou em 3% em dezembro. Neste início do ano, a moeda brasileira voltou a se apreciar.
Por fim, a pesquisa também registra queda na confiança dos empresários em janeiro. O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) caiu 2,8 pontos, aprofundando o pessimismo já verificado desde dezembro.
É a quarta queda sequencial do índice de confiança das pequenas indústrias, que já acumula recuo de 5,2 pontos desde setembro. O índice está agora em 46,8 pontos, abaixo de 50 pontos, que é a linha divisória que separa o pessimismo do otimismo.
Enquanto os juros estiverem nas alturas, como agora, será difícil reverter o sentimento negativo dos pequenos industriais.
Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)