DIREITO

Em Jundiaí, R$ 17,6 milhões foram pagos a mandados da saúde

Por Amanda Martins |
| Tempo de leitura: 2 min
DIVULGAÇÃO
Ana Paula é advogada, especialista em saúde e aponta falhas no SUS
Ana Paula é advogada, especialista em saúde e aponta falhas no SUS

O acesso à saúde no Brasil tem levado milhares de pacientes aos tribunais em busca de medicamentos, exames e procedimentos médicos que não são oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ou por planos privados. Em Jundiaí, só no ano de 2024 foram registradas mais de 191 novas ações relacionadas à saúde, com valor gasto de R$ 17,6 milhões. Esse valor atende a um total de 1780 processos ativos (processos antigos e recentes). Esse fenômeno, conhecido como judicialização da saúde, cresce a cada ano e levanta debates sobre o direito à saúde.

Segundo o artigo 196 da Constituição Federal de 1988, “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação."

A advogada especializada em Direito Médico e da Saúde, presidente da Comissão de Direito Médico e Saúde da 33ª Subseção da OAB, professora de pós-graduação e palestrante, Ana Paula de Araujo Cosin, afirma que a judicialização da saúde pública no Brasil é impulsionada por diversas falhas no Sistema Único de Saúde (SUS), como a escassez de recursos financeiros, infraestrutura insuficiente como tempo de espera para o acesso aos serviços de saúde, e, sobrecarga dos serviços públicos, o que resulta na indisponibilidade de medicamentos e tratamentos essenciais. Além disso, também há questões administrativas. “Entraves na aquisição e distribuição de medicamentos também contribuem para o agravamento do problema. A imprecisão e a defasagem das políticas públicas e das normativas legais geram insegurança quanto às responsabilidades do Estado, levando os cidadãos a recorrerem ao Judiciário para dirimir essas dúvidas.’ 

Para muitos pacientes, recorrer à justiça é a única forma de garantir o tratamento necessário. Ana Paula aponta que, para reduzir a judicialização da saúde e melhorar o acesso, é essencial fortalecer o SUS, aprimorar as políticas públicas e garantir maior transparência e fiscalização no setor privado. “A judicialização, embora seja uma válvula de escape para o cidadão, não pode continuar a ser a única forma de garantir o direito à saúde. Se a alternativa não existir, a via judicial precisa ser a última ferramenta para assegurar o direito inalienável de viver, sem que o cidadão precise enfrentar a morte por falhas no sistema.” No setor privado, a judicialização surge principalmente de disputas entre beneficiários e operadoras de planos de saúde. “Seja por negativa de cobertura, reajustes abusivos ou demora na prestação de serviços essenciais, sendo o Judiciário uma ferramenta importante para fazer cumprir os termos dos contratos.”, completa Ana Paula. 

Comentários

2 Comentários

  • Joel Franco de Oliveira 03/02/2025
    Exatamente assim No ano passado precisei de recursos; pois estava numa fila de espera de quase dois anos pelo SUS, para RTU de próstata procedimento mais invasivo com cobertura pelo SUS Devido ao tempo de demora resolvi procurar recursos para fazer procedimento menos invasivo de alto custo; junto a Defensoria Pública onde resido. Infelizmente o juiz em primeira instância já deu como indeferido. Depois disso tive que vender meu veículo e emprestar o valor que faltou para completar o montante total do procedimento de quase R$ 30.000
  • Elza Francisca de Carvalho 03/02/2025
    Sobre os R$17 milhões de mandados pagos à saúde para quase 200 ações judiciais, no bem escrito artigo da advogada Ana Paula Araújo: ela toca em pontos dos mais relevantes e que merecem atenções, aproveitando inclusive o momento em que Hospital São Vicente e Prefeitura de Jundiaí, discutem renovação de contratos com valores igualmente milionários ( por sinal não renovado por oposição e imposição do Conselho Gestor do Hospital que exigiu reajuste de 30% contra os 22% oferecidos pela Prefeitura) e como uma forma de passar a Saúde Pública do Município a limpo. Ana Paula toca num ponto relevante: \"garantir maior transparência e fiscalização no setor privado\". Eu acrescentaria a mesma fiscalização na saúde pública municipal. No caso e aqui vai a sugestão e as perguntas que não querem calar: de quais cofres sairam os R$17 milhões de reais? Quem são os destinátarios dos recursos? No caso dos recursos públicos e SUS, quem são os beneficiários? Seriam pessoas pobres, assalariados, com poucos recursos financeiros ou empresários, com quatro carros na garagem, donos de Mercedes, apartamentos no Guarujá? São comprovadamente residentes em Jundiaí, ou parentes de moradores da cidade que forneceram seus endereços para colaborar na fraude ao sistema? E os atendimentos médicos ou remédios autorizados, quais são? A meu singelo entender seria ou será interessante que Administração Municipal, por meio da Secretaria e Gestão de Saúde tenha ciência, preste as informações na parte que lhe cab e, e torne-as públicas, como forma de prestação de contas à comunidade. Que precisa sim, saber pra onde vão os recursos públicos da Saúde Municipal. De resto, parabéns à dra Ana Paula pelo brilhane e tão oportuno artigo.