OPINIÃO

O calor dentro e fora de você


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A capacidade de produzir o próprio calor é algo de muito valor para os seres vivos. Pensando de um ponto de vista biológico, gerar calor a partir do metabolismo permite que o indivíduo tenha muitas horas de atividade consecutivas, independente do clima do local onde está. Permite ficar acordado à noite. Possibilita a ingesta de uma grande variedade de alimentos, certo de que serão digeridos rapidamente.

Essas propriedades são tão inerentes ao nosso cotidiano a ponto de acreditarmos que sempre foram presentes, mas ao contrário: desenvolveram-se como uma vantagem evolutiva. O aumento da temperatura corporal a fim de controlar uma infecção, o que conhecemos como febre, é outro exemplo deste “calor interno”.

Mesmo antes de estudos de fisiologia e antropologia apontarem para esse conhecimento, a medicina chinesa percebia a importância dessa propriedade “geratriz de energia quente” para a saúde, inclusive relacionando o calor corporal de forma contígua com o calor do ambiente, tal qual duas faces da mesma moeda, como energias de propriedades equivalentes produzindo ações dentro e fora das pessoas.

Por esse ponto de vista da medicina tradicional, tão importante quanto gerar o calor é controlá-lo, para que sua produção não exceda a demanda, resultando em uma condição doentia e potencialmente lesiva para os tecidos do corpo onde ocorre. Chamamos isso hoje de “inflamação”, que, não por acaso, é uma palavra que originalmente tem significado de “incendiar” ou “acender em chamas”. 

Uma das faces da inflamação é, então, ser um calor que outrora era útil, mas que saiu do controle transformando-se em uma ameaça para o local onde ele se iniciou, justamente igual a um incêndio. Seguindo ainda a analogia de um incêndio, caso não seja controlado, irá destruir tudo que tem ao seu redor.

Assim também no corpo: inflamações locais, decorrentes de pequenas infecções, podem se alastrar no corpo todo, gerando a tal “inflamação generalizada”, onde o incêndio já toma todo o organismo e perdeu seus limites. Caso de urgência!

O que podemos fazer para impedir que as inflamações no nosso corpo sejam frequentes, recorrentes ou mesmo que se “generalizem” com facilidade? Hoje existem inclusive exames laboratoriais que mostram a “propensão” que o indivíduo tem de desenvolver inflamações.

A resposta é análoga às ações que se tomaria para prevenção de incêndios: guardar produtos inflamáveis longe de fontes de calor, limpeza e organização nos locais de trabalho, uma vez que lixo e resíduos podem ser “inflamáveis”, melhoria e manutenção dos extintores, que nada mais são elementos de controle e arrefecimento de qualquer eventualidade.

Similarmente, nosso corpo possui vias físicas e energéticas para dispersar o calor excessivo, a fim de modular sua ação e qualquer excesso. Deste ponto de vista, pessoas que possuem uma propensão a inflamar ou mesmo possuem inflamações de forma repetitiva, como infecções de garganta ou urinárias (as mais comuns) precisam ter o seu sistema revisado e limpo, para que pequenas injúrias com a presença de vírus ou bactérias comuns não acabem gerando uma grande complicação para seu bem-estar.

Alexandre Martin é médico especialista em acupuntura e com formação em medicina chinesa e osteopatia (xan.martin@gmail.com)

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