A posse de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos, na semana passada, causou um frenesi global raras vezes visto. A série de ordens executivas assinadas abrangendo temas variados como imigração, diversidade, energia e clima, entre outros, mostrou que Trump volta à Casa Branca com disposição de colocar rapidamente sua agenda na rua.
O mercado financeiro ainda está tateando os primeiros movimentos do presidente americano para entender o caminho que será trilhado pelo país mais poderoso do mundo.
Os primeiros dias foram de alívio porque não houve elevação das tarifas de importação. Na campanha, ele prometeu aumentos generalizados, com percentuais variando de acordo com o país. Para a China, por exemplo, Trump falou em impor de uma alíquota de 60%. Já empossado, anunciou que sua equipe está avaliando um percentual de 10% a partir de 1º de fevereiro.
Neste momento, o fato de não ser uma prioridade na agenda americana pode ser uma boa notícia para o Brasil. Além da China, países como os vizinhos Canadá e México deverão ser os primeiros impactados por medidas comerciais tomadas por Trump.
A relação bilateral entre Brasil e EUA é longa, frutífera e não pode ser desprezada por nenhuma das partes.
Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, seja em importações ou em exportações – o primeiro é a China. O Brasil, por sua vez, está em 18º no ranking de quem exporta para os Estados Unidos e em nono lugar entre os que mais importam.
No ano passado, o Brasil exportou US$ 40,3 bilhões para os EUA e importou US$ 40,5 bilhões, conforme dados oficiais. Houve um crescimento bastante relevante de 9,2% nas exportações (as importações avançaram 6,9%).
Vale ressaltar o perfil dessas exportações: do total de US$ 40,3 bilhões, nada menos que US$ 31,6 bilhões são de produtos industriais, um recorde. Na visão da Câmara de Comércio Americana (Amcham), este número reafirma a posição dos Estados Unidos como o principal destino para produtos brasileiros com maior agregação de valor.
O principal produto exportado pelo Brasil para os EUA é petróleo bruto (14% das exportações em 2024), seguido de produtos semiacabados de ferro e aço (8,8%), aeronaves (6,7%) e café não torrado (4,7%). Na mão inversa, nós importamos dos americanos, sobretudo, motores e máquinas (15%), óleos combustíveis de petróleo (9,7%), aeronaves e suas partes (4,9%) e gás natural (4,1%).
Além disso, o Brasil é relevante na cadeia de produção de empresas americanas, que fabricam partes de seus produtos aqui, com destaque para a indústria automobilística e a de equipamentos eletrônicos.
É difícil antever onde sairemos ganhando e onde sairemos perdendo se os EUA de fato erguerem barreiras protecionistas. É preciso colocar na balança perdas e ganhos, pois novas possibilidades comerciais também devem se abrir.
É o caso do acordo Mercosul-União Europeia, que ganhou tração depois da eleição de Trump, por ser uma oportunidade para ambos os blocos incrementarem o comércio fora do radar da disputa entre Estados Unidos e China. Já empossado, Trump afirmou que também pretende tarifar produtos da UE e disse que o bloco europeu é “muito ruim” para os americanos.
Trump mal sentou na cadeira de presidente, mas já mostrou que vai sacudir o mundo com sua agenda. O Brasil terá de se mover com muita habilidade para encontrar boas oportunidades neste cenário geopolítico complexo, com tintas protecionistas e de grande incerteza.
Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)