OPINIÃO

O Burnout e o rumo da vida


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Atenção, queridos leitores(as), cenas fortes adiante! Preparem-se!

Imaginem um pai um tanto desatento que deixou, por instantes, seu filho de uns quatro anos desacompanhado em uma praça movimentada no centro de uma cidade, enquanto buscava a carteira esquecida no carro estacionado “logo ali”.

O pequeno, sem muita noção, sai andando atrás de “umas pernas adultas” que ele achou que fossem do pai dele, mas ... ledo engano! Vendo-se perdido, a criança começa a andar mais rápido, na ânsia de encontrar o pai ou ao menos o lugar de onde tinha saído. Contudo, a paisagem se torna outra, depois outra e nenhum rosto que observa é conhecido. Começa a sentir aquela sensação de “nó” na garganta, então.

A ânsia é substituída pelo desespero e a caminhada fica ainda mais apressada, caótica, em busca de segurança, sem, no entanto, entender como a encontraria.

Paramos neste ponto. Qual seria o seu conselho para nosso desgarrado mini-herói, a fim de que a sua jornada se resolva da melhor maneira possível? Tenho segurança em afirmar que muitos já acertaram: a criança deve, primeiro, parar de andar, pois estática facilita a ação de quem a procura.

O que essa história (de terror) tem a ver com a síndrome de esgotamento profissional, o burnout? Bem, tudo começa há muito tempo, no começo da evolução dos primeiros mamíferos, dos quais nossos corpos (e cérebros) são derivados.

Neste período, era fundamental para a sobrevivência do indivíduo a boa relação com o seu grupo social. Andar em bandos, onde os recursos são divididos e a segurança é compartilhada é uma estratégia muito eficiente. Isso ficou marcado nos nossos cérebros, em áreas que existem desde essa época e mesmo nas nossas células, sendo refletido em genes que codificam hormônios de stress disparados em situações de perigo.

Uma destas situações é estar perdido, desgarrado do bando, principalmente se o indivíduo é uma criança que precisa de cuidados intensos. Reconhecer-se perdido disparam mecanismos de proteção que, no fim do processo, fazem com que o indivíduo se sinta exausto, desanimado, em uma condição passiva. Por quê? Ora, este comportamento aumenta as chances de ser encontrado. 

Extrapole isso um pouco para nossa vida moderna. Imagine-se trabalhando demasiadamente para obter a sua felicidade, mas parece que você nunca a alcança. Sem desistir, você se esforça ainda mais, “dando o seu sangue”, mas os resultados parecem cada vez mais distantes. Neste ponto, é provável que apareça um questionamento no fundo da sua mente sobre o seu “caminho de vida”: será que ele está correto? Será fiz as escolhas certas? Eu sirvo para fazer o meu trabalho? Por que não vejo progresso nos meus esforços?

Sentir-se perdido, mesmo depois de tanto se esforçar para “encontrar-se” em uma profissão ou em um projeto de vida pode disparar os mesmos mecanismos de proteção e segurança que estão primitivamente programados nos nossos genes. Níveis de hormônios como o cortisol, antes elevados devido ao stress, podem despencar e o indivíduo sente exaustão extrema, falta de foco, pressão baixa. 

Neste ponto, simplesmente descansar não é possível. Trata-se de um estado de tensão constante. O sistema nervoso e o endócrino têm que ser recalibrados e gatilhos de perigo devem ser desligados. Daí então uma abordagem multidisciplinar e holística são as melhores opções para “reencontrar-se” na vida.

Dr. Alexandre Martin é médico especialista em acupuntura e com formação em medicina chinesa e osteopatia.

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