A partir de fevereiro, quando começa o ano letivo de 2025, os celulares estarão proibidos nas escolas brasileiras. A restrição é ampla: os smartphones estarão banidos nas redes pública e privada da educação básica (da pré-escola ao Ensino Médio), tanto para utilização em sala de aula, quanto no recreio e intervalos.Nos próximos dias, deve sair a regulamentação da medida.
Vale destacar que, em um país polarizado como o Brasil atual, esta proposta alcançou raro consenso na sociedade e no legislativo, e foi sancionada sem vetos pelo presidente da República. Pesquisa do Instituto Datafolha mostra que 65% dos pais de crianças e adolescentes apoiam o banimento e que 78% deles acreditam que o aparelho traz mais prejuízos que benefícios – embora 43% deles já tenham dado celular aos filhos.
Ao adotar a medida, o Brasil se alinha a países como França, Canadá, México e Portugal, entre outros, que já seguiram este caminho. De fato, é uma tendência mundial, posto que os dados têm demonstrado os prejuízos no aprendizado e à saúde mental de crianças e adolescentes.
O Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes (PISA) de 2022, divulgado em dezembro de 2023, constatou que os alunos que acessam a internet na escola de 5 a 7 horas por dia tiveram pontuação mais baixa no exame em comparação aos que limitam o uso a uma hora. Quem fica menos online obteve 49 pontos a mais em matemática do que os estudantes que passavam mais tempo nas telas.
Cerca 65% dos alunos admitiram se distrair nas aulas de matemática por conta do celular e outros dispositivos eletrônicos, como tablets e laptops. No Brasil, esse percentual chegou a 80% dos estudantes.No Japão e na Coreia do Sul, que estão entre mais bem colocados no PISA, o nível de distração dos alunos foi de 18% e 32%, respectivamente.
Críticos da restrição defendem que as escolas e os professores falharam em incorporar a tecnologia ao dia a dia da sala de aula e, como não sabem lidar com a situação, partiram para a solução mais radical, que é o banimento.
Isto é uma meia verdade. Não há dúvidas de que é um enorme desafio para os sistemas educacionais incorporarem de maneira eficaz a significativa a tecnologia na rotina escolar.
Porém, a realidade é que a atração que joguinhos e redes sociais exercem sobre os jovens é tamanha que os desconecta do ambiente escolar, mesmo nos momentos de lazer. Além disso, há inúmeras pesquisas que relatam os impactos negativos das telas para a saúde mental, física e psíquica de crianças e adolescentes – e isso não pode ser ignorado.
Por fim, a nova lei assegura que os aparelhos poderão ser utilizados para fins pedagógicos e didáticos, conforme orientação do professor, bem como garantir a acessibilidade e a inclusão na escola. Não podemos, no entanto, ignorar que haverá desafios, sobretudo para a rede pública, que tem menos recursos, inclusive, para guardar os equipamentos.
Certamente, os primeiros dias serão difíceis, haverá choro e ranger de dentes. Relatos de adolescentes cujas escolas já baniram os smartphones e similares são de uma verdadeira crise de abstinência no início. Professores contam que o sentimento dos primeiros dias foi de revolta e que levou semanas, às vezes meses, para a adaptação à nova realidade.
Com o passar do tempo, porém, toda a comunidade escolar concluiu que houve ganhos, tanto na socialização, quanto na aprendizagem.
Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP