OPINIÃO

A incógnita Trump


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Na próxima segunda-feira, 20 de janeiro, Donald Trump tomará posse como o 47º presidente dos Estados Unidos. O retorno à Casa Branca do empresário que fez fortuna no mercado imobiliário entrou para a política e dominou o partido Republicano marca o início de uma nova era de incertezas, com reflexos políticos, econômicos e ambientais em âmbito global.

A economia foi um vetor importante para a eleição de Trump, segundo as pesquisas. Depois de conviver com a maior inflação em 40 anos, resultado dos estímulos fiscais e dos desarranjos comerciais da pandemia, os norte-americanos entenderam que os democratas haviam falhado na missão de lidar com o aumento de preços e decidiram dar nova chance ao republicano.

Além disso, durante sua campanha, Trump prometeu implementar medidas que priorizam os interesses dos Estados Unidos. Parte delas, porém, resultará em novos estímulos fiscais, como: mais benefícios tributários para empresas; redução de impostos corporativos de 21% para 15%; aumento dos investimentos em segurança e infraestrutura; fim da taxação de benefícios de seguridade social. Para implementá-las, basta maioria simples no Congresso, algo que os republicanos conquistaram nas eleições.

Para outras promessas de campanha, nem é necessário o aval do Congresso. É o caso da imposição das tarifas de importação para proteger os produtos fabricados nos EUA. Trump prometeu taxar em 60% as importações chinesas, em 25% as dos vizinhos México e Canadá e de 10% a 20% todas as demais.

Vale destacar ainda que, já como presidente eleito, Trump ameaçou ainda taxar em 100% os produtos dos integrantes dos Brics (grupo de economias emergentes do qual o Brasil faz parte), se esses países tentarem substituir o dólar por outra moeda em transações comerciais internacionais, como aventado.

Ninguém duvida que países eventualmente afetados pelas novas taxações irão retaliar os Estados Unidos também elevando tarifas. O aumento do protecionismo decorrente dessa guerra tarifária irá resultar em elevação da inflação e, provavelmente, também dos juros internacionais, o que levaria a um ambiente desafiador para as economias emergentes.

Sob Trump, o multilateralismo perde força não só do ponto de vista econômico, mas também político. O novo presidente deve manter uma relação conflituosa com os países da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) com ameaça de saída do acordo se os países europeus não contribuírem com ao menos 2% do Produto Interno Bruto (PIB) para a área de defesa. Além disso, na campanha, ele propôs a redução do apoio militar e financeiro de ajuda à Ucrânia.

A volta de Trump ao poder ameaça ainda os acordos climáticos e a transição energética rumo a uma economia de baixo carbono. Em seu primeiro mandato (2017-2021), depois de vários constrangimentos, os Estados Unidos saíram do Acordo de Paris, tratado internacional pelo qual os países se comprometem a reduzir as emissões de gases de efeito estufa para conter o aquecimento global.

Biden, além de recolocar os EUA no acordo, adotou várias políticas verdes, estimulando a adoção de energia limpa com políticas fiscais e subsídios. Na campanha, Trump disse que deixará o tratado novamente e prometeu reorientar a política energética para aumentar a produção de petróleo e gás.

Não há como saber o quanto das promessas eleitorais trumpistas serão efetivamente implementadas. Sabemos apenas que a incerteza dará o tom nos próximos meses, até o mundo conseguir delinear um quadro mais realista deste segundo governo do republicano. Quanto ao Brasil, o país terá de avaliar caso a caso as medidas do novo presidente para ver o que pesa mais na balança de possíveis benefícios e novos desafios.
 
Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)

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