O ano de 2024 termina como os últimos: com o crescimento surpreendendo positivamente, bem acima das expectativas iniciais. O quanto o Produto Interno Bruto (PIB) avançou de fato só será conhecido no início de 2025, mas as apostas são de que superará os 3% contra a estimativa de pouco mais de 1% do começo do ano. A Fiesp projeta 3,5% de crescimento da economia.
A indústria de transformação foi uma das boas surpresas de 2024. Ao longo do ano, o setor consolidou um processo de recuperação, com a produção sendo puxada, em maior medida, pelos setores produtores de bens de consumo duráveis, como linha branca, e de bens de capital, que são os investimentos em máquinas e equipamentos. A expectativa é que o PIB do setor feche 2024 com avanço próximo de 3,6%.
Dois fatores sustentaram esta recuperação: a expansão da renda das famílias e o crédito. O maior consumo é resultado do mercado de trabalho aquecido, com o desemprego atingindo mínimas históricas (6,2%, segundo a PNAD contínua) e massa salarial em crescimento (aumento de 7,7% comparando-se outubro de 2024 com outubro de 2023).
A renda ampliada, que considera ainda o Bolsa Família e o pagamento de precatórios, entre outros, também avançou. Além disso, a queda das taxas de juros registrada em meados do ano favoreceu o setor, que é muito dependente do crédito.
Alguns dados ilustram esta economia aquecida. Na comparação janeiro a outubro de 2024 com o mesmo período de 2023, por exemplo, a produção de ônibus cresceu 35,3% e a de caminhões 42,8%. A Black Friday brasileira superou todas as projeções e teve o melhor desempenho em quatro anos, com vendas online faturando R$ 4,27 bilhões. O setor de serviços, o maior segmento econômico, segue forte e resiliente.
Os dados econômicos positivos, porém, foram eclipsados por um fim de ano turbulento. Em outubro, a inflação acumulada em doze meses rompeu o teto da meta (4,5%) e atingiu 4,76%. A expectativa é que o IPCA cheio de 2024 também estoure este limite máximo e termine próximo a 4,8%. Os alimentos são o grande vilão e devem fechar o ano com aumento entre 6,5% e 7%, sendo que, em 2023, registraram deflação.
A situação fiscal é outro ponto de fragilidade e a incerteza em relação à trajetória da dívida pública contaminou o preço dos ativos. O dólar mudou de patamar. Começou o ano abaixo de R$ 5 e superou a barreira dos R$ 6. É mais um componente a jogar lenha na inflação, o que corrói a renda das pessoas.
Paralelamente às questões internas, o cenário externo também levou à apreciação do dólar. A eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos colocou uma nuvem de incerteza na geopolítica mundial e na condução da economia norte-americana. Se suas promessas de campanha forem cumpridas, os EUA serão mais protecionistas, o que pode levar a mais inflação e a juros internacionais mais elevados. O Federal Reserve (Banco Central norte-americano) já sinalizou que fará quedas de juros mais suaves.
O Brasil fechou o ano com o governo apresentando um pacote fiscal. O mercado considerou as propostas tímidas, avalia que está mais para aperfeiçoamentos de programas existentes do que cortes de verdade. O fato é que o conjunto de medidas não muda o cenário difícil do quadro fiscal previsto para os próximos anos e, em 2025, o país terá de enfrentar o desafio dos gastos públicos crescentes.
Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP
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Adilson Freddo 5 dias atrásUma análise bem fundamentada. Ficou claro, que em 2024 o governo federal buscou fortalecer a indústria e a geração de empregos, apostando no crescimento da arrecadação via consumo. Com relação ao corte de despesas, ainda está muito longe da necessidade. Tem muitos ministérios abrigando acordos com partidos políticos visando manter uma base no parlamento para o presidente poder governar. Se mexer nesse \"ninho\" o país verá o \"Dilma 2\"