A celebração do Natal é marcada por encontros, trocas de presentes e comida farta à mesa. Colocamos o papo em dia e celebramos a vida. Assim deveria ser em todos os lares. Mas não é. No Brasil, 2,5 milhões de pessoas passam fome todos os dias. Inclusive no Natal.
Os dados são do SOFI 2024, um estudo produzido pelas Nações Unidas. O número representa 1,2% da população do nosso país. É uma triste realidade, mas já foi pior. Em 2023, o Brasil reduziu em 85% o número de pessoas que sofriam com a insegurança alimentar severa. Na prática, 14,7 milhões de pessoas que antes sentiam fome passaram a ter o que comer.
Apesar do número ser positivo, não podemos nos conformar com qualquer resultado que não seja fome zero. E vamos em busca deste objetivo. Em seu discurso no G20 Social, no Rio de Janeiro, o presidente Lula prometeu que, até o fim do seu mandato, nenhum brasileiro irá passar fome.
A declaração marca uma posição importante e coloca novamente o enfrentamento da insegurança alimentar na pauta prioritária do Governo Federal. Afinal, como nos ensinou Hebert de Sousa, o Betinho, quem tem fome tem pressa.
Esse é um desafio que nós já superamos uma vez. Em 2014, o Brasil deixou o Mapa da Fome, impulsionado por uma série de políticas públicas adotadas nos anos anteriores pelos governos do presidente Lula e da presidenta Dilma.
Desde então, muita água passou por debaixo da ponte. A política entrou em ebulição, Dilma sofreu um golpe e o clima de instabilidade abriu caminho para a ascensão da extrema direita.
As prioridades se inverteram. A defesa do agronegócio se sobrepôs aos investimentos anteriores para o fortalecimento da agricultura familiar e os programas sociais passaram a ser atacados.
O resultado veio a galope. Em 2022, com Bolsonaro presidente, voltamos a ocupar o nosso antigo lugar no Mapa da Fome. Para entrar na lista, pelo menos, 2,5% da população de um país precisa sofrer com a falta de comida na mesa. Naquele ano, a fome afligiu 4,1% dos brasileiros.
A experiência nos mostra que, para transformar essa realidade, é preciso valorizar a agricultura familiar, estimular o consumo de alimentos saudáveis em substituição aos ultraprocessados e fomentar políticas públicas para a redução das desigualdades sociais e uma melhor distribuição de renda.
Agora, com o PT novamente na Presidência, o combate à fome voltou a ser uma prioridade de governo. Lançamos o Plano Brasil Sem Fome e recriamos a Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Essas são as bases para garantirmos comida no prato de todos os brasileiros, como sinalizou o presidente Lula em seu discurso no G20 Social.
Josué de Castro, brasileiro quatro vezes indicado ao prêmio Nobel da Paz, dizia que metade da humanidade não come; e a outra não dorme, com medo da que não come. Aproveitemos a solidariedade que nos inspira durante o Natal para refletir sobre os valores que devem nos moldar como sociedade.
E que sejamos capazes de unir forças para acolher e estender a mão a quem ainda luta contra o fantasma da fome no nosso país para que a fartura servida nas nossas mesas no Natal deste ano seja uma realidade para todos os brasileiros até 2026.
Mário Maurici de Lima Morais é jornalista. Foi vereador e prefeito de Franco da Rocha, vice-presidente da EBC e presidente da Ceagesp. Atualmente, é deputado estadual em São Paulo.