O Botafogo FR merecidamente é o Campeão Brasileiro 2024. Ganhou a Libertadores e agora o título máximo do nosso país. Merecido, é o time que mais joga futebol de boa qualidade no país.
Me decepcionou na reta final o Palmeiras: perdeu do próprio Glorioso e ontem do Fluminense. Imaginei que não seria assim… O ciclo de vários atletas estaria se encerrando?
Aliás, foi muito curioso ver palmeirenses reclamando de uma possível falta de esforço do São Paulo contra o Botafogo (como se o Tricolor tivesse time para vencer o Fogão no RJ, já que perdeu até para o Juventude no Morumbi) e o próprio Verdão não fazer a sua parte…
Também me surpreendi com o “enredo” do Brasileirão: em determinado momento, o Corinthians tinha aproximadamente 0,4% de chances em chegar à Zona da Libertadores (aqui, citando a fase preliminar) e o Red Bull Bragantino chances de quase 80% de rebaixamento. Ambos contrariaram a lógica e mudaram a previsão.
A pergunta que fica: esse ótimo (e caro) elenco do Botafogo “vai se pagar”?Afinal, o time profissional é uma SAF, e precisa ter lucro. Com todas as custosas contratações e salários, haverá retorno financeiro? Nesse primeiro momento, com os números que se lê na mídia, está bem longe disso…
Ainda sobre o Fogão: quem se dá bem nos campeonatos de futebol em nosso país, por tabela, se dá mal! É mole?
Digo isso pelo excesso de jogos e o nosso calendário apertado. Vejamos, por exemplo, o que o Botafogo-RJ (melhor time do ano) disputou: Campeonato Carioca (Taça Guanabara e Taça Rio); Copa do Brasil; Copa Libertadores (incluindo a fase Pré); Campeonato Brasileiro; Copa Intercontinental. No ano que vem, devido ao sucesso em 2024, acrescente-se: Recopa Sul-americana; Supercopa do Brasil e Supermundial da FIFA.
Não dá tempo de comemorar os títulos. Quanto mais tem conquista, mais jogos nos arrastados campeonatos e menos tempo de descanso. Não é loucura que, mesmo tendo conquistado a Libertadores, não houve um período “tranquilo” para a comemoração, pois tinha o Brasileirão? E conquistando o Brasileirão, teve que sair do campo e viajar para o Catar, para jogar o Intercontinental? E estando lá, foi eliminado... o popular termo "água no chopp".
Sacrifica-se o elenco, o lazer, a recuperação e a “vida útil” do atleta, que só vai ser percebida no futuro. Precisamos rediscutir o calendário brasileiro, envolvendo não só cartolas do esporte, mas também os jogadores e os médicos. É muito jogo para poucos dias no calendário.
Que tal diminuir as datas dos Estaduais e reduzir o número de times na série A e Libertadores? Já seria um começo… Lógico, sabemos que temos muitos jogos justamente por mais dinheiro. Mas pensemos: menos vulgarização de jogos, mais qualidade do atleta em campo… haveria valorização. Ou não?
O “bicho no futebol” é algo instituído na cultura brasileira. É uma premiação por produtividade ou por conquistas, e me incomoda muito.
Penso: se eu sou um professor, devo me dedicar ao máximo na docência, sem esperar um “incentivo extra” para lecionar melhor. Devo (e sou) profissional. E compare com um jogador de futebol: ele não tem boa estrutura, condições de trabalho e (em tese), salários em dia para render dentro de campo o máximo que puder? Por que eu preciso pagar um valor extra para o jogador conquistar uma vitória? É obrigação dele tentar isso!
Me refiro, especificamente, ao Red Bull Bragantino: foi necessário pagar um “bicho gordo” para fugir do rebaixamento? As informações falam de R$ 50 mil para cada atleta nesses dois últimos jogos. E depois de uma sequência de péssimos resultados, o Massa Bruta venceu justamente as duas derradeiras.
Questiono-me: sem o “extra”, os atletas teriam conseguido as duas vitórias? Ficaremos no “e se…”
Rafael Porcari é professor universitário e ex-árbitro profissional (rafaelporcari@gmail.com)