Um vídeo tomou conta da Internet brasileira e gerou muitos debates. Nele, uma mulher de nome Jeniffer é exposta ao se recusar a trocar de lugar com o filho pequeno de outra passageira.
Apesar do constrangimento, a maioria dos internautas apoiou Jeniffer, considerando a atitude da outra passageira como indelicada. Essa história gerou um debate sobre etiqueta em viagens aéreas e a importância de respeitar o espaço pessoal dos outros. Além, claro, o fato de se compreender melhor as histórias mostradas na rede como um todo, e não apenas a parte que é mostrada. A mãe da criança também foi exposta, de forma muito negativa.
Além de uma série de entrevistas e de apoio recebido (com pitadas de ódio, como tudo na vida real ou online), Jeniffer ganhou mais de 1,4 milhão de seguidores nas redes sociais.
E aqui é o ponto fulcral. Jeniffer não fez... Absolutamente nada. Só disse não a um pedido de troca de lugar no avião. E nem isso aparece no vídeo.
Mas ela ganhou quase dois milhões de seguidores.
Ao mesmo tempo muitos comparam esses números e esse fenômeno com a repercussão da indicação da excelente Fernanda Torres ao Oscar de melhor atriz, algo imenso para o cinema nacional, mas que possui quase o mesmo número de seguidores nas redes do que Jennifer.
Nesse momento, muitos pseudointelectuais começam a vociferar. Ah, Brasil que não valoriza os seus! Como pode Fernanda Torres não ter tantos seguidores e a Jennifer, que nada fez, ter tantos. Os valores estão invertidos!
Particularmente não penso assim. Falo isso porque os motivos que levam uma pessoa a seguir outra nas redes podem ser dos mais variados: admiração, curiosidade, apoio, raiva (ou o tal hate).
Nivelar a influência de alguém pura e simplesmente pelo número de seguidores em redes é que é insano. Jennifer causa curiosidade, admiração, etc. Fernanda Torres também. Mas ela já é conhecida em outras redes sociais que não apenas online.
Onde quero chegar? É que resumiram a sociedade e o convívio entre as pessoas, assim como o poder de influência em posts e curtidas. Mas não. Não é assim fácil como vendem.
Jennifer hoje é mais motivo de notícias. Ok. Amanhã será outra barbaridade. Mas Fernanda Torres permanece. Não assim como tantos no passado ainda permanecem.
Vamos pegar leve na importância que se dá aos perfis de redes sociais?
Samuel Vidilli é cientista social (svidilli@gmail.com)