Ficou em mim a colocação de “caridade enérgica” da Carta Encíclica “Dilexit Nos” (Ele Nos Amou), do Santo Papa Francisco, publicada em 24 de outubro deste ano, sobre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus.
A caridade do Cristo foi enérgica mesmo. Não se dobrou perante os doutores da lei, nem de Pilatos, nem de Herodes... Indiferente aos que O julgavam por se permitir ter os pés lavados em lágrimas por uma prostituída, por se sentar com os pecadores, por dizer aos que pretendiam apedrejar a mulher adúltera: “Aquele que não tiver pecado, seja o primeiro a atirar uma pedra”. Homem das dores, escorrendo sangue, falou, sem discursos moralistas, ao ladrão que O reconheceu como o Messias: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”. Para aqueles o faziam sofrer mais ainda disse: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.
Como falta, na sociedade em que vivemos, a caridade enérgica. Começo hoje falando sobre as crianças e os adolescentes abusados sexualmente, principalmente em lugares conhecidos deles e por pessoas que de alguma forma lhe são próximas.
Imagino a dificuldade de uma criança, sozinha com um adulto pedófilo, que é conhecido da família e dela também, sem, no entanto, conhecerem seus “segredos macabros”, que se aproxima com olhar animalesco, a fim de “devorar” sua carne para sentir prazer. Sem dúvida fica em seu coração a baba purulenta do homem ou da mulher que, por não ter preparo interno para reagir, ainda se considera culpada.
A caridade enérgica, nesse caso, protege a criança, mostra que ela não é responsável pela tara de terceiros e denúncia nos serviços competentes para que ele ou ela não repitam esse tipo de comportamento nefasto com as demais crianças ou adolescentes.
Imagino o conflito interior de um adolescente quando alguém, com poder onde atua, de confiança sua e da família, com discurso de benevolência, interrompe seus sentimentos puros para corrompê-los com sua prática sexual abominável.
A caridade enérgica, em situações como essas, afasta, até que se comprove, o pervertido de sua função. Quem lhe oferece brechas, sem dúvida não cumpre aquilo que disse Jesus (Mateus 18, 6): “Mas, se alguém fizer cair em pecado um destes pequenos que creem em mim, melhor fora que lhe atassem ao pescoço a mó de um moinho e o lançassem no fundo do mar”.
Há tantas crianças e adolescentes que carregam a tristeza da violação de seu corpo.
Há tantas crianças e adolescentes que carregam a dor de não saber para aonde ir. A mãe da menina a concebeu em meio à turbulência das drogas. O pai, desde a adolescência, não alcançara o seu prumo. Veio a criança e ele a amou. A mãe já estava com o raciocínio afetado pelo uso de substâncias diversas.
O pai encontrou outra “mãe”, para a menina, que também era dos desvarios. Machucou a pequenina. O pai conseguiu a guarda no período em que se deparou com a mulher ideal. A menina se viu com a mãe.
Ressurgiu um processo antigo do pai e ele foi detido. Não se sabe agora sobre o destino da criança. Quanta dor, meu Deus!
Tenho me questionado quanto minha caridade é água com açúcar. Caridade enérgica mudaria, por certo, o mundo.
Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)
escolha sua cidade
Jundiaí
escolha outra cidade