OPINIÃO

A pressão emocional contra os atores do esporte


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Repararam o quanto estamos falando de "saúde mental" nessas últimas rodadas do Brasileirão?

O assunto é: o time A "pipocou"? O time B "sentiu o peso da necessidade da conquista?" O jogador C não estava preparado para o sucesso?"

A pressão entre os atores do mundo do futebol é enorme, mas há um silêncio muito grande sobre esse tema: o da saúde mental no esporte.

Em 2009, o goleiro alemão Robert Enke se matou atirando-se em uma linha de trem. Dois anos depois, o árbitro iraniano Babak Rafati, cansado da pressão do meio, tentou o suicídio cortando os pulsos. Mais recentemente, o ex-atacante Nilmar (Inter-RS e Corinthians) disse ter sofrido depressão e pensou em se matar.

Vários atletas de outras modalidades encerraram precocemente a carreira por conta da pressão por resultados, e isso decorre pelo fato de que o esporte de alto rendimento, no fundo, não é algo saudável. O exagero no desempenho do corpo, a carga enorme de treinamentos, a maratona de partidas e disputas, por fim, esgotam fisicamente a pessoa. E se o atleta não tiver um condicionamento emocional adequado, sucumbe. Vide Serginho (São Caetano) e Izquierdo (Nacional-URU), falecidos.

Muricy Ramalho, treinador, abandonou a carreira depois dos problemas de saúde, fruto da sua atividade. O AVC de Ricardo Gomes, ocorrido ao vivo num jogo do Brasileirão, credita-se ao stress. E aí somos obrigados a refletir: por mais que se possa dizer que grandes técnicos ganham muito dinheiro, e que isso é a sua compensação pelos percalços e cobrança que passam, a saúde mental fala muitas vezes mais alto. Às vezes, nem fala: grita!

Jürgen Klopp, ex-treinador do Liverpool, considerado um profissional atencioso e sempre divertido, demonstrou na Premiere League um comportamento diferente, perdendo a cabeça e se enervando desnecessariamente. Klopp parou com o ofício de treinador e será coordenador dos clubes da Red Bull (um trabalho bem menos exigente).

Pense: quantos outros treinadores não gostariam de fazer a mesma coisa? Abel Ferreira, treinador do Palmeiras, falou abertamente: "ganhei tanto dinheiro e não consigo gastá-lo, não consegui passear ainda na cidade de São Paulo".

Imagine, agora, os seguintes problemas: um jogador sofre pressão da torcida nas arquibancadas, não recebe o seu salário em dia, não pode sair para passear em shopping ou restaurante quando o clube perde, além da sua cobrança interior. Se não tiver ajuda psicológica, adoece. De que adiantou todo o dinheiro conquistado, se a qualidade de vida (e até a liberdade cotidiana) se esvazia?

Voltemos aos atletas: Kevin De Bruyne, do Manchester City, declarou que "estava feliz em se lesionar, pois estava curtindo a família em casa, coisa que não podia fazer". Por essas ausências na família, o ex-corintiano Rodrigo Varanda repensou a carreira. Mais ou menos o que quase aconteceu com o jogador atleticano Lyanco (esse, aparentemente, sofrendo de outra doença emocional: a Síndrome de Burnout). Ops: não nos esqueçamos de Yuri Alberto, que declarou ter melhorado o seu rendimento depois de ajuda psicológica!

Há um fator que potencializa ao extremo isso: as redes sociais. No Twitter (ou melhor, no atual "X"), torcedores entram nos perfis dos boleiros e ofendem com as maiores barbaridades possíveis. O assédio moral é violento e não há muito o que fazer: ou o profissional abandona a Internet ou ignora as críticas.

Um exemplo para comparação: Tom Holland, o jovem ator que interpretou "Homem Aranha" nos cinemas anunciou que saiu das redes sociais para preservar a saúde mental. E considere: ele tem um staff enorme, acompanhamento terapêutico, é rico, e seu trabalho é elogiado. E ainda assim não aguentou. Imagine um atleta de futebol, que mexe paixões contrárias e a favor.

Fica o alerta para a FIFA, além das entidades locais, como a CBF: façamos campanhas de prevenção ao equilíbrio emocional e à saúde mental, antes que algo mais grave possa acontecer.

Rafael Porcari é professor universitário e ex-árbitro profissional (rafaelporcari@gmail.com)

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