Outro dia, eu estava almoçando com um gestor público e afirmei que não acreditava mais em PIB (Produto Interno Bruto). Ele riu, incrédulo, da minha arrogância de jornalista. Tudo bem, não sou economista, mas escrevo sobre economia e política há 30 anos. E, como também sou da velha guarda, tenho uma formação humanista sólida e olhando ao redor, com esses olhos de águia investigativa, não vejo como indicadores econômicos bem-sucedidos nos farão felizes ou mais prósperos.
Vamos olhar para Jundiaí. O PIB refere-se a todas as riquezas que produzimos aqui. Em 2021, o Produto Interno Bruto (PIB) do município foi estimado em aproximadamente R$ 59 bilhões, com um PIB per capita de R$ 135.081,20. A cidade se destaca no cenário nacional, ocupando a 18ª posição no ranking de maiores economias do Brasil e a 7ª posição no estado de São Paulo. Ou seja, é maravilhosa, mas não leva em conta os 40 mil jundiaienses que vivem na linha da pobreza ou abaixo dela. Da minha janela do quarto, vejo o Jd. São Camilo e sua perpetuação quase secular como bairro periférico. Ao andar nas ruas do Centro, para chegar na redação, o que prosperam mesmo são os pedintes.
O que estou escrevendo não é mero achismo. Tenho estudado o tema há muitos anos, desde que o Butão, pequeno país asiático, ganhou meu coração. Ali, a Felicidade Interna Bruta (FIB) é uma filosofia de desenvolvimento e uma métrica de bem-estar adotada pelo país. Ao contrário do Produto Interno Bruto (PIB), que mede apenas a produção econômica, a FIB considera fatores holísticos para avaliar a qualidade de vida e a felicidade da população. É baseada em quatro pilares e nove domínios principais: desenvolvimento socioeconômico sustentável e equitativo, preservação e promoção da cultura, conservação ambiental e boa governança.
Desde então, empresários globais, como Jeffrey Sachs, e vários institutos formados por economistas estão divulgando o conceito pelo mundo afora, como o Gross National Happiness Centre (GNH Centre) e Happy Planet Index (HPI), além de ser adotado pela ONU (Organização das Nações Unidas) para análises e indicadores.
A metodologia do FIB é extensa. Envolve 72 subindicadores que cobrem nove dimensões, consideradas os principais componentes da felicidade e bem-estar no Butão: bem-estar psicológico, uso do tempo, vitalidade da comunidade, cultura, saúde, educação, diversidade do meio ambiente, padrão de vida e governança.
Uma vida comunitária sadia salta aos meus olhos. Onde a comunidade é ativa, o crime organizado não entra. Com a formação de condomínios, medidas de segurança, nos sentimos cada vez mais reféns em nossas próprias casas e deixamos de fazer o que torna a nossa vida mais significativa, contemplar o outro.
Mas ali, ali mesmo atrás da minha casa, há moradores que colocam suas cadeiras nas ruas e batem papo diariamente nas calçadas. Foi a partir deles que pensei na vastidão da felicidade. Não é dinheiro. É tempo e dedicação. Desculpem, não quero saber do PIB, quero uma cidade mais feliz.
Ariadne Gattolini é jornalista, pós-graduada em ESG pela FGV-SP e editora-chefe do Grupo JJ de Comunicação
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