OPINIÃO

Teoria da complexidade


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A vida humana é um sistema complexo e dinâmico composto por muitas variáveis que interagem continuamente. Assim como na física e na biologia, dentre outras ciências, a saúde também pode ser vista sob a ótica da teoria da complexidade, que oferece uma abordagem holística (que tanto gosto) e adaptativa para lidar com o corpo, a mente e o ambiente.

Na saúde, a teoria da complexidade vai além do paradigma linear que busca causas isoladas para problemas específicos. Ela considera que cada pessoa é única e que sua saúde resulta da interação entre fatores biológicos, emocionais, sociais e ambientais. Esse entendimento amplia nossa visão sobre o corpo humano, transformando diagnósticos e tratamentos em processos mais personalizados e integrados. Perfeito, não é?

Há alguns anos escrevi para vocês sobre isto. A teoria da complexidade estuda sistemas que apresentam comportamento imprevisível e não-linear devido à interação de suas partes, como o clima, os ecossistemas, as redes sociais e o incrível corpo humano.

Os sistemas complexos exigem uma abordagem mais flexível e criativa. Na saúde, isso significa que um sintoma isolado — como a dor nas costas, um dos meus campos de atuação — não deve ser tratado como uma entidade desconectada. É necessário investigar sua origem multifatorial: estresse, postura inadequada, hábitos de vida, nutrição e assim como as questões emocionais.

O que me encanta no corpo humano é que ele é um sistema interconectado que opera em constante comunicação entre seus subsistemas: o sistema nervoso, o imunológico, o digestivo, o emocional, dentre outros. Essas conexões criam feedbacks que regulam nosso estado de equilíbrio ou desequilíbrio.

Pessoas que enfrentam altos níveis de estresse emocional podem desenvolver sintomas físicos como dores musculares ou alterações gastrointestinais, por exemplo. Esses sintomas, por sua vez, resultam em  estresse, criando um ciclo vicioso. Nesse contexto, uma abordagem complexa para a saúde reconhece que o tratamento não pode focar apenas nos sintomas físicos, mas também nas causas emocionais e comportamentais.

Esse é o princípio de metodologias integrativas, como o treinamento postural ELDOA, que desenvolvo no Brasil. O método busca equilibrar o corpo de forma global, levando em conta a interação entre músculos, articulações e o sistema nervoso central, promovendo benefícios tanto físicos quanto mentais.

Um dos conceitos centrais na teoria da complexidade é a adaptabilidade. Sistemas saudáveis conseguem se ajustar a mudanças e desafios, mantendo sua funcionalidade. No corpo humano, isso é observado na homeostase, a capacidade de regular funções internas como temperatura, pressão arterial e níveis de glicose.

Entretanto, quando enfrentamos estímulos excessivos, como uma dieta inflamatória, sedentarismo ou sobrecarga emocional, o sistema pode se desregular, gerando doenças crônicas. E retomar o equilíbrio exige muito trabalho e intervenções que respeitem a singularidade do indivíduo e incentivem sua capacidade de adaptação.

Por isso, práticas que promovem resiliência e adaptabilidade, como a prática regular de atividades físicas conscientes, meditação e alimentação equilibrada, são essenciais. Elas não atuam isoladamente, mas em sinergia, fortalecendo os sistemas corporais e emocionais.

A teoria da complexidade é também interessante por explicar que o bem-estar não se limita ao corpo. Ele abrange nossas relações, escolhas e o ambiente em que vivemos. Atualmente, a vida moderna frequentemente promove desconexão: passamos mais tempo em telas do que em contato com a natureza, enfrentamos níveis de estresse elevados e vivemos sob a pressão constante de sermos “produtivos”. Isso fez sentido para você?

Para resgatar a saúde, precisamos adotar uma visão sistêmica, que reconheça como cada aspecto de nossa vida influencia os demais: a qualidade do sono, a forma como nos alimentamos, o movimento que praticamos e as relações que cultivamos estão profundamente interligadas.

Adotar a teoria da complexidade na saúde significa abraçar a incerteza e valorizar a singularidade de cada ser humano. Essa é a verdadeira beleza dessa teoria.Embora possamos usar tecnologias avançadas para diagnósticos e tratamentos, é fundamental lembrar que a saúde é um processo contínuo, onde escolhas cotidianas, ambiente e equilíbrio interno desempenham papeis cruciais.

Ao compreendermos que nossa saúde é fruto de uma rede de interações, ampliamos nossa capacidade de promover mudanças duradouras. Mais do que “consertar” o corpo, trata-se de criar condições para que ele se autorregule e nos torne aptos para desfrutar a vida e suas necessidades..

Nesse sentido, a teoria da complexidade não é apenas um conceito científico, mas uma filosofia de vida. Ela nos convida a refletir sobre a maneira como cuidamos de nós mesmos, das nossas relações e do mundo ao nosso redor, reconhecendo que tudo está interligado e que as soluções muitas vezes vêm da integração e não da fragmentação. Muita saúde a todos.

Liciana Rossi é especialista em coluna e treinamento desportivo, pioneira do método ELDOA no Brasil (licianarossi@terra.com.br)

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