O nosso coração não bate como um relógio. Mesmo que a frequência cardíaca seja, por exemplo, 60 batimentos por minuto, o intervalo entre esses batimentos não é constante. Em um momento, o intervalo pode ser de 0,9 segundos, em outro, 1,1 segundos. Essa variação é chamada de Variabilidade da Frequência Cardíaca e, embora seja um conceito técnico, entender a VFC pode nos ajudar a cuidar melhor da nossa saúde.
A variabilidade da frequência cardíaca (VFC) é, portanto, a medida da variação no tempo entre cada batimento cardíaco. Embora nosso coração bata de forma contínua, o intervalo entre os batimentos nunca é exatamente o mesmo. Uma VFC alta significa que há uma grande variação entre os intervalos de batimentos, enquanto VFC baixa indica pouca variação.
Mas para que serve a VFC então? É simples, ela é um indicador importante do funcionamento do nosso sistema nervoso autônomo, que é dividido em duas partes: Sistema nervoso simpático (SNS): responsável pela resposta de “luta ou fuga”, que ativa o corpo para situações de estresse. Outra parte seria o nosso Sistema nervoso parassimpático (SNP): que é responsável pela resposta de “descanso e digestão”, ajudando o corpo a relaxar e se recuperar.
Uma alta variabilidade da frequência cardíaca geralmente indica um equilíbrio saudável entre o SNS e o SNP, refletindo numa boa capacidade de adaptação e resiliência do corpo ao estresse. Já uma VFC baixa pode ser um sinal de estresse crônico, cansaço ou desregulação do sistema nervoso.
A VFC influencia nossa saúde pelo fato de ser um indicador de saúde geral, na verdade, ela é considerada um dos melhores indicadores de longevidade e saúde cardiovascular. Uma VFC alta está associada a melhor função cardíaca, redução do risco de doenças cardíacas e maior adaptabilidade do corpo, resumindo: indica saúde.
Monitorar a VFC ajuda a identificar níveis de estresse, já que uma queda na VFC pode indicar que o corpo está sob pressão, seja por estresse emocional, físico, ou por falta de sono. Neste caso, podemos entrar com intervenções como meditação, exercícios respiratórios e práticas de relaxamento, que podem ajudar a aumentar a VFC e restabelecer o equilíbrio.
No mundo do esporte de alto rendimento e mesmo no treinamento físico, a VFC é utilizada para medir a recuperação do corpo. Atletas e treinadores analisam a VFC para ajustar a carga de treino e evitar o temido “overtraining”. Uma VFC alta sugere boa recuperação e prontidão para treinos intensos, enquanto uma VFC baixa indica que o corpo ainda precisa de tempo para se recuperar.
Sabemos que a VFC é influenciada pela qualidade do sono, já que durante o sono profundo, o sistema parassimpático, aquele do “descanso e digestão”, domina, levando a uma HRV mais alta. A falta de sono ou sono de má qualidade reduz a HRV, afetando a capacidade do corpo de se recuperar. Simples de entender que ocorre, basta lembrar como fica sua energia após uma noite mal dormida.
A VFC também está relacionada ao controle emocional. Pessoas com VFC alta tendem a lidar melhor com situações de estresse e têm maior capacidade de controlar respostas emocionais.
Aposto que vocês estão se perguntando: como podemos monitorar e melhorar a VFC? Te respondo: é simples, hoje em dia temos vários dispositivos como smartwatches, monitores de frequência cardíaca e aplicativos para celular, que permitem acompanhar a VFC facilmente. O ideal é medir pela manhã, logo após acordar, para ter uma leitura mais consistente.
Saibam que a VFC varia de pessoa para pessoa e depende de fatores como idade, condicionamento físico, saúde geral, estilo de vida e genética. Não existe um “valor ideal”, mas, de maneira geral, pessoas jovens e atletas tendem a ter VFC mais alta e as pessoas mais velhas ou com problemas de saúde tendem a ter VFC mais baixa. O mais importante é acompanhar como sua VFC muda ao longo do tempo. Se observar uma queda significativa e persistente, pode ser um sinal de que seu corpo está sob estresse e precisa de atenção.
Desta forma, a variabilidade da frequência cardíaca é uma ferramenta poderosa para entender como nosso corpo está lidando com o estresse e a recuperação. Ao monitorar e cuidar da VFC, podemos fazer ajustes no estilo de vida para melhorar nossa saúde física, mental e emocional. Com práticas simples, como boa alimentação, sono de qualidade e exercícios, é possível manter a VFC em um nível saudável e aumentar nossa resiliência ao estresse. Muita saúde a todos.
Liciana Rossi é educadora física (licianarossi@terra.com.br)