OPINIÃO

A ansiedade é mesmo uma grande vilã?


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Às pessoas queridas que acompanham mensalmente essa coluna, já inicio dizendo que em momento algum pretendo defender nenhum tipo de romantização de adoecimentos, principalmente os mentais e emocionais, ao contrário.

Tenho dito e repetido também, pelos espaços que me são concedidos, que embora proponha reflexão profunda, minhas escritas são apenas isso. Ou seja, propostas de reflexão para além do senso comum e que aliás, sobre o tema ansiedade, atualmente andam beirando a patologia. Porém não se pode e muito menos deve-se propor qualquer tipo de reparação terapêutica, por meio de cerca de 3.300 caracteres textuais mensais, ainda que eu rogue que este recado possa chegar a muita gente.

Para falar de ansiedade não como vilã, mas com algum entendimento e compreensão sob perspectivas mais aprofundadas, vou lançar mão, mais uma vez, das ideias de minha mestra na Polimatia e, ao meu ver, maior filósofa contemporânea da atualidade. A professora Anna Flávia Ribeiro é fundadora da Tribo Polímata, entre outras coisas, e por isso mesmo, todo o mundo deveria conhecê-la!

Recentemente, Anna Flávia, em seu podcast DopaMinas – caso tenha curiosidade é só procurar nas principais plataformas digitais de áudio e vídeo - em companhia de convidados não menos brilhantes, como a doutora Carla Tieppo, que sempre cito aqui, e também do biomédico Paulo Muniz, nos trouxe, novamente, poderosas e incômodas, mas ao final alentadoras, provocações acerca de como a ansiedade nos afeta na atual era digital.

Do ponto de vista filosófico aristotélico, e este não é excludente de outros ângulos de análise, como da Neurociência e da própria Biologia e Psicologia, é possível pensar a ansiedade como um estado de ser no mundo que nos coloca em contato com a experiência de não apenas coexistirmos na angústia de antecipação de acontecimentos futuros, mas de funcionarmos como um agente legítimo através de uma capacidade de exercer a nossa autenticidade, navegando entre estados de solidão e convivência, angústia e serenidade, tédio e diversão, entre tantas dialéticas possíveis.

Por mais complexo que possa parecer a você que se dedicou a ler até este trecho, estou tentando reproduzir, por intermédio das proposituras da minha filósofa extraordinária, uma ideia de navegação e alternância coesa e saudável, de um estado de ansiedade para um de ataraxia, que em sua tradução primeira, quer dizer estar em serenidade, tranquilidade ou calma, preservando a inteireza e compreendendo racionalmente que a saúde mental localiza-se exatamente nesse movimento.

Para finalizar, também nas palavras de Anna Flávia, é necessário atenção para a instantaneidade em que estamos sendo ejetados existencialmente por inteligência artificial, que tem subtraído o nosso bem precioso maior, que é justamente o tempo. O tempo das coisas, tornando-nos apáticos e desesperançados. Epiteto e Anna Flávia lindamente nos lembram que : “Assim como o material do carpinteiro é a madeira e a do estatuário é o bronze, a matéria prima da arte de viver é a vida de cada pessoa...”  Que possamos descobrir e praticar a autarquia, que é do domínio de si, em nome do futuro sustentável da humanidade.

Márcia Pires é Sexóloga, pós-graduanda em Neurociência e Gestora de RH (piresmarcia@msn.com)

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