O momento político que vivemos no Brasil, que sentimos nas redes, que estava nas conversas de bar, contaminou (como não poderia deixar de ser) as eleições municipais. Nunca tivemos eleições tão violentas. Sim, violentas. Essa é a palavra.
Rusgas, acusações, denúncias, tentativas de intimidação, prisões, justiça eleitoral trabalhando a mil. Será que o tempo da civilidade acabou?
Eu lembro das campanhas anteriores ao executivo que foram mais polarizadas ideologicamente falando, sempre com um representante da situação (Ary Fossen, MIguel Haddad, Luiz Fernando Machado) e outro de oposição (Pedro Bigardi, Gerson Sartori, Daniela da Camara). Era possível enxergar duas visões antagônicas ideologicamente falando. Mas em nenhum momento houve campanhas difamatórias tão pesadas. Sim, uma situação aqui, uma fofoca acolá faz parte da vida numa cidade do interior. Mas nada, absolutamente nada pode ser comparado ao que vivemos nesses últimos meses.
E que sobra disso?
Um grupo rachado. Os dois candidatos neste segundo turno saíram do mesmo bloco que governou a cidade nos últimos oito anos. O grupo rachou. Uns perderão e outros ganharão. E disso restarão ressentimentos, mágoas, cicatrizes. Que podem se refletir na Câmara Municipal. Quem quer que seja o prefeito hoje terá pelo menos dois vereadores fazendo oposição (pelo menos é assim que eles se colocaram na disputa e se mantiveram até agora).
Mas política não deveria se tratar disso, pois tem algo muito mais importante que sobra. É todo o “resto”.
Jundiaí.
Que precisa ser governada com seriedade, com paixões mensuradas e com muito critério. Jundiaí está indo muito bem, obrigado, mas é vítima de um crescimento brusco tanto de receitas como de despesas. Desde orquestra, teatros, escolas, creches, obras viárias, de mobilidade urbana, melhoria na qualidade do serviço de ônibus, investimento na agricultura local, na saúde, na revitalização do centro histórico, pagamento do funcionalismo público... Tem muita coisa.
Ou seja, o que sobra de todas essas querelas eleitorais, além de cicatrizes pessoais, da alegria de um grupo e desapontamento de outro, é a cidade de Jundiaí, com seus quase 450 mil habitantes, suas demandas, necessidades e aspirações.
Um lugar com desafios tremendos: crescer sem perder suas características, tomando o cuidado com a gentrificação, com a mobilidade. Cuidar de suas reservas de água e de natureza. Planejar com cuidado e inteligência o futuro, buscando desde investimento e valorização na economia criativa até na melhor forma de atender os que investem na cidade dada sua localização geográfica privilegiada.
Gerar empregos. Dar dignidade de moradia. Aumentar a sensação de segurança em lugares como o Centro Histórico, a Ponte São João etc. Iluminar a cidade cada vez mais. Limpar os postes de tantos fios. Organizar as calçadas. Pensar em planos de acessibilidade a portadores de deficiência. capacitar e qualificar sempre e cada vez mais os valorosos servidores públicos. Aqueles que entendem o significado do “ser” servidor.
Sim. É, como disse, muita coisa.
Que os vencedores tenham Jundiaí e seu povo em mente.
E entendam a responsabilidade e o lugar na história que eles conquistaram em meio a uma campanha avassaladora.
E esqueçam as cicatrizes. Ao menos deixem-nas secar. Em nome da boa governança de Jundiaí.
SAMUEL VIDILLI é cientista socia