Do que se trata a política?
Muitas podem ser as respostas. Muitas são as definições.
Vou contar uma de minhas favoritas, mas para isso permitam-me começar com um pouco de história. Até 1870 não existia uma Alemanha como país, mas sim inúmeros pequenos Estados que tinham línguas e costumes parecidos, mas que nunca estiveram unidos. Coube a um homem chamado Otto Von Bismarck, chanceler da Prússia (um desses pequenos Estados germânicos) consolidar o processo que levou à criação do Império Alemão. A ele se atribui a seguinte máxima: “a política é a arte do possível”. Ou seja, os limites do que pode ser feito é dado pela força das circunstâncias, construindo consensos e encontrando soluções que beneficiem a sociedade como um todo dentro das possibilidades apresentadas.
Mas quem pode fazer isso? Quem (e como) seria o político ideal para realizar o possível no Brasil de hoje? Na Jundiaí de hoje?
Vivemos um momento histórico, isso é inegável, e para isso recorro a outro alemão: Max Weber. O pai da ciência política definia, em linhas bem gerais, que o poder de um homem sobre o outro poderia ser legitimado de três maneiras: ou pela "tradição" (um rei, um patriarca que tem poder porque há uma crença na santidade de quem dá a ordem e de suas ordenações - direito divino), ou pelo "carisma" (definido pela influência e admiração por alguma pessoa, notadamente marcada pela tentativa de criar simpatia para agradar a maioria) ou de forma "racional legal" (exercida em virtude da legalidade de eleições, por exemplo, pela fé na validade das leis e da competência funcional, baseada em regras criadas de forma lógica: trata-se daquele que se coloca como "servidor do povo", capacitado e instruído, com experiência).
Resumindo, há três líderes: o que nasceu para ser e o é por uma tradição/religiosidade que lhe confere tal poder; o líder que emociona pela paixão e pelo convencimento e o que se torna líder para servir pois se preparou para tal e assim tem o respeito de seus semelhantes.
Trazendo tudo isso para nossa realidade local e às portas de um segundo turno, encontramos um dilema: o que queremos para nossa cidade? Temos duas opções (já que o líder tradicional não cabe aqui; não estamos numa monarquia ou num governo religioso): o carismático e o racional.
Insisto: o que queremos? Emoção ou razão? Sentimentalismo ou conhecimento? Discurso ou prática?
Atenção: o ideal seria tudo em um grupo só, em uma única pessoa. Mas não é o caso. Nunca é o caso. E nunca deve ser, senão caímos na tirania.
E nunca, NUNCA se trata de uma luta entre o bem e o mal. Quem cria um maniqueísmo assim mostra a total e absoluta intolerância com quem pensa o contrário. Uma vez que nos colocamos como os donos de TODAS as virtudes, desprezamos quem pensa o contrário. E política é para todos, até para aqueles que não pensam como você. Afinal, é a arte do possível.
E por isso acredito que a escolha ideal está na experiência, no conhecimento adquirido como aluno, professor, gestor, liderado e liderança. Na escuta atenta dos problemas. Em não se colocar acima do oponente, como representante do bem contra o mal. Não se trata disso. E nunca deve se tratar.
A escolha deveria ser por quem é experiente e tem conhecimento para fazer da política a arte do possível, sem maniqueísmo ou sentimentalismo. Deve ser racional.
Samuel Vidilli é cientista social (svidilli@gmail.com)