OPINIÃO

Exemplos de superação da renda média e o Brasil


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Na semana passada, abordamos o Relatório de Desenvolvimento Mundial 2024, do Banco Mundial, que trata dos países que estão aprisionados na chamada “renda média”. A instituição sugere adotar a Estratégia 3i (investimento, infusão e inovação) para avançar para a renda alta.

Resumindo, primeiro é preciso de políticas para incentivar os investimentos, depois é necessário acrescentar à economia tecnologias externas e, por fim, também inovar. Vamos abordar os cases de sucesso de Coreia do Sul, Polônia e Chile e como a instituição vê o Brasil neste cenário.

Para o Banco Mundial, a Coreia do Sul é um exemplo notável de adoção da Estratégia 3i. Em 1960, a renda per capita do país era de apenas US$ 1.200 anuais. Ao final de 2023, havia alcançado US$ 33 mil. O começo foi uma combinação de políticas para aumentar o investimento público e encorajar o investimento privado.

Na década de 1970, porém, isso se transformou numa robusta política industrial que incentivava empresas nacionais a adotarem tecnologias estrangeiras e métodos de produção mais sofisticados. Um exemplo é a Samsung que, de fábrica de macarrão, começou a produzir aparelhos de TV para os mercados nacional e regional utilizando tecnologias de empresas japonesas, como Sanyo e NEC.

Com isso, surgiu a demanda por engenheiros, gestores e outros profissionais qualificados. Foi atendida pelo Ministério da Educação com mais orçamento e metas para as universidades colocarem no mercado esses profissionais. Ao fim, veio a inovação.

Já a Polônia, no início da década de 1990, no pós-socialismo, passou de uma economia planejada para de mercado. A adesão à União Europeia deu grande impulso ao país. A renda per capita era de 20% da média da UE e saltou para 50%.

Nesta transição, o país fez reformas, privatizou estatais e abriu a economia. Atraiu investimentos e aumentou a produtividade com as tecnologias importadas dos países europeus ocidentais, além de ampliar o acesso à educação de nível superior. A renda per capita atual é de US$ 22.112 l anuais.

Nosso vizinho, o Chile, alcançou a renda alta em 2012 (US$ 17.093 em 2023). Suas exportações cresceram e se diversificaram desde a década de 1960, quando a mineração representava 80% do total – agora é metade. As transferências de conhecimento das economias avançadas têm sido apoiadas por instituições públicas e privadas.

Um exemplo é a adaptação de tecnologias norueguesas de cultivo de salmão às condições do Chile, o que tornou o país um dos principais exportadores mundiais do peixe.

E o Brasil? Para o Banco Mundial, trata-se de um case de nação aprisionada na renda média desde os anos 1970. Segundo a instituição, o país tomou o rumo errado. Os governantes decidiram incentivar a inovação sem passar pela etapa da infusão, no início do século 21, pelo temor de que a tecnologia estrangeira agravasse as desigualdades internas e levasse à dependência das economias desenvolvidas. As tentativas de inovar, no entanto, não renderam os frutos esperados.

Vale ressaltar que o impacto dos juros absurdamente altos nos últimos 30 anos não foi avaliado. De qualquer forma, o fato é que a produtividade dos trabalhadores brasileiros correspondia a 40% dos norte-americanos em 1980 e, em 2018, equivalia a apenas 25%. A se manter a toada atual, o Brasil deve chegar a 2100 ainda mais distante dos EUA na escala de riqueza.

No entendimento do Banco Mundial, não há atalhos para a inovação e é pouco provável que políticas industriais permitam que países saltem de um modelo orientado para investimentos e exportação para um modelo orientado para inovação e serviços.

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)

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