Faz quase 20 anos que o Banco Mundial cunhou a expressão “armadilha da renda média” para definir a situação de países que atingem um nível intermediário de desenvolvimento e depois têm dificuldade para superar esta condição e se tornar uma nação rica.
Recentemente, a instituição revisitou o tema na publicação Relatório de Desenvolvimento Mundial 2024. O estudo avaliou mais de cem países, entre os quais Brasil, Índia, China e África do Sul, e conclui que existem muitos obstáculos que podem dificultar a passagem desta centena de nações para a renda alta nas próximas décadas.
Os dados mostram como, hoje em dia, é difícil fazer a passagem da renda média para a renda alta. Desde 1990, apenas 34 países conseguiram dar este salto, sendo que mais de um terço conseguiu porque aderiu à União Europeia ou descobriu novas jazidas de petróleo.
Atualmente, o centro da renda média, segundo o Banco Mundial, corresponde a uma renda per capita anual de US$ 8 mil, valor que equivale a cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos – a brasileira é de US$ 10.043. Com base na experiência dos últimos 50 anos, a instituição afirma que, à medida que os países vão enriquecendo e atingem este patamar, eles tendem a cair numa “armadilha” e não conseguem mais dar o salto necessário.
No final do ano passado, o Banco Mundial classificou 108 países como de renda média. Com o PIB per capita anual variando entre US$ 1.136 e US$ 13.845, abrigam 6 bilhões de pessoas, ou 75% da população mundial, e representam mais de 40% do PIB global.
Diferentemente dos países desenvolvidos, os de renda média de hoje enfrentam desafios inexistentes no passado, como o rápido envelhecimento da população – o que reduz a força de trabalho, motriz da riqueza –, um maior protecionismo nas economias avançadas e a necessidade do mundo de fazer a transição energética rumo ao baixo carbono.
Na nova publicação, o Banco Mundial faz um roteiro para que as nações trilhem o caminho da prosperidade e escapem da armadilha onde se encontram. Porém, muitos deles seguem presos a fórmulas antigas que não funcionam mais na conjuntura atual.
Segundo a instituição, todos os países precisam adotar uma combinação de políticas em sequência e crescentemente mais sofisticadas, a depender do estágio de desenvolvimento de cada um, que eles chamam de “Estratégia 3i”: investimento, infusão e inovação.
Na fase 1, indicada para os países de renda baixa, é possível se concentrar apenas em políticas destinadas a aumentar os investimentos. Tão logo atinjam a condição de renda média baixa, será necessário expandir o conjunto de políticas.
Na fase 2, investimento apenas não é suficiente, os países também precisam de infusão, ou seja, de adotar tecnologias externas em toda a economia para continuar avançando.
Uma vez alcançada a renda média alta, os países devem seguir rumo à fase 3 (a última) quando entra em cena a inovação. Neste estágio, tomar ideias emprestadas das fronteiras globais da tecnologia já não basta. A inovação tem de acontecer internamente e em equilíbrio com o investimento e a infusão.
Para Somik V. Lall, responsável pelo relatório, a trilha não é fácil, mas é possível avançar, mesmo nas condições desafiadoras atuais: “O sucesso dependerá de quão bem as sociedades conseguem equilibrar as forças de criação, preservação e destruição”.
Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)
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