Na semana passada, a sede da Fiesp e do Ciesp foi palco de um debate envolvendo especialistas e CEO de empresas tão importante quanto urgente: a neoindustrialização apoiada pela transição energética. Os últimos acontecimentos climáticos no Brasil, como os incêndios que tomaram conta do país, a seca que castiga a região Norte, além das inundações que arrasaram o Rio Grande do Sul, em maio passado, são a prova inequívoca que não dá mais para adiar as ações neste campo.
É em meio aos efeitos das mudanças no clima sendo sentidos em todo o mundo que os países desenvolvidos decidiram acelerar as políticas industriais sustentáveis. Há dúvidas se o Brasil, em que pese sua condição de potência verde, com inegáveis vantagens competitivas ambientais, vai conseguir acoplar a política ambiental à política industrial, a exemplo do que têm feito as nações avançadas.
Segundo os especialistas presentes ao seminário, o Brasil corre o risco de perder esta janela de oportunidades de se reindustrializar se seguir apenas exportando matéria-prima. Vejamos o caso do SAF, o combustível de aviação sustentável. Atualmente, exportamos os insumos para a produção de SAF no exterior, álcool e sebo de boi para os Estados Unidos, e soja em grão para a China.
O Brasil, porém, tem todas as condições de ser a Arábia Saudita do SAF. Hoje, são consumidos no país cerca de 7 bilhões de litros de querosene para aviação por ano e a capacidade de produção de SAF no país gira ao redor de 50 bilhões a 60 bilhões de litros anuais. Ou seja, há um enorme excedente que pode ser exportado. Para atingir este objetivo, deve-se acelerar a regulamentação em torno do combustível, de modo a haver plenas condições para desenvolver essa cadeia produtiva internamente, gerando tecnologia e empregos de qualidade aqui.
Já a União Europeia, por meio do Green Deal Industrial Plan, de 2023, e os Estados Unidos, com o IRA, de 2021, estão promovendo a industrialização por meio da descarbonização. Estão lançando mão, fortemente, de subsídios, uma vez que são segmentos que dependem de apoio porque são tecnologias ainda caras e sem escala. Trilhões de dólares estão sendo investidos nesta indústria sustentável. É um poder de fogo que o Brasil, por suas condições fiscais, não tem.
É um mundo novo, em que as regras estão em construção. Por isso, o Brasil precisa ficar atento para que esses subsídios não sejam abusivos, ou seja, uma cortina para criar protecionismo e comércio desleal.
Não que no Brasil não haja subsídios. Mas torna-se uma política pública ineficiente porque é um subsídio que começa e não tem data para acabar, como apontaram os especialistas. E aí falta dinheiro para investir em novas tecnologias que de fato precisariam de apoio para serem desenvolvidas.
É o paradoxo da energia barata com a conta de luz cara. Como bem pontuou o presidente da Fiesp, Josué Gomes, para protegerem seus interesses, os lobbies de determinados grupos no Congresso Nacional empurram custos para outros setores – e a conta mais alta acaba sendo paga pela indústria.
Vimos isso na privatização da Eletrobras, em que foram adicionados à lei diversos jabutis, como a extensão do funcionamento de usinas térmicas a carvão e o prazo adicional para que as fontes renováveis e a geração distribuída continuem a receber subsídios.
São distorções que comprometem o nosso crescimento. Precisamos superar essas forças do atraso para entrarmos para valer na agenda da indústria do futuro.
Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)
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