OPINIÃO

Vape: um verdadeiro veneno


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Os cigarros eletrônicos são o produto de tabaco mais comumente usado entre estudantes do ensino fundamental e médio e essa estatística é alarmante, pois muitos utilizam como uma maneira de fugir do cigarro comum. Porém, estes dispositivos conhecidos como cigarros eletrônicos, vapes, canetas vape, vaporizadores pessoais, charutos eletrônicos ou narguilés eletrônicos, não são uma alternativa segura ao fumo de cigarros.

Os vapes foram popularizados com uma ideia errônea de que seriam uma alternativa para a interrupção do uso dos cigarros convencionais. Tal informação não é reconhecida pelo Ministério da Saúde, além da comercialização, importação e propaganda dos cigarros eletrônicos serem proibidos pela Anvisa.

O uso abusivo de cigarros eletrônicos entre adolescentes tem se tornado uma preocupação crescente devido aos malefícios significativos para a saúde. Este assunto surgiu num papo com a médica pediatra Dra. Daniela Cunha, onde ela citou o perigo real destes dispositivos, um verdadeiro veneno dentre nossos adolescentes, já que muitos contém nicotina, que é altamente viciante, podendo também aumentar a frequência cardíaca e a pressão arterial, o que pode contribuir para problemas cardíacos a longo prazo. Além do mais, o uso abusivo de nicotina pode estar associado ao aumento de sintomas de ansiedade, depressão e outros transtornos mentais.

A Dra Daniela alerta que a exposição precoce à nicotina pode aumentar a probabilidade de dependência, além de prejudicar o desenvolvimento cerebral dos adolescentes, já que o cérebro  estará em desenvolvimento até cerca dos 25 anos. A nicotina interfere nesse processo, prejudicando o aprendizado, a memória e a atenção, além de que o uso constante pode levar a dificuldades cognitivas permanentes.

Os produtos químicos presentes nos líquidos do vape podem também danificar os pulmões e levar a doenças respiratórias, como bronquite crônica, asma e, em casos mais graves, lesões pulmonares agudas, segundo a pediatra. Além de conter metais pesados (como níquel, estanho e chumbo), compostos orgânicos voláteis e outros ingredientes prejudiciais, como o diacetil, que está relacionado a doenças pulmonares graves. Ela diz que pesquisas sugerem que adolescentes que começam a usar vapes têm mais probabilidade de passar a fumar cigarros tradicionais ou consumir outras substâncias nocivas no futuro, criando um ciclo de dependência que pode ser difícil de quebrar, infelizmente.

Os principais riscos do consumo do cigarro eletrônico são o surgimento de câncer, doenças respiratórias e cardiovasculares, como infarto, morte súbita e hipertensão arterial. Há também a probabilidade de contrair a doença pulmonar chamada Evali, sigla em inglês para “lesão pulmonar associada ao uso de produtos de cigarro eletrônico ou vaping". O vapor dos cigarros eletrônicos contêm substâncias químicas tóxicas que podem causar tais lesões nos pulmões.

O uso frequente de cigarros eletrônicos pode causar irritação nas gengivas, aumento de cáries e problemas dentários devido aos compostos químicos presentes no vapor, além das reações químicas na boca destruírem as bactérias “do bem”, o que pode contribuir para a proliferação das bactérias “do mal”, que causam as cáries e gengivites.

Segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, os principais sintomas são tosse, dor torácica e dispneia, além de dor abdominal, náuseas, vômitos, diarreia, febre, calafrios e perda de peso. ‌A fumaça inalada passivamente também é muito perigosa, são os mesmos riscos do cigarro convencional.

Esses efeitos são especialmente preocupantes em adolescentes, pois o uso de cigarros eletrônicos pode prejudicar o desenvolvimento saudável, fisicamente e psicologicamente, especialmente nesta fase, onde muitos estão estudando, para o vestibular, ou na faculdade. Já há evidências de que há redução no desempenho escolar e educacional.

Não podemos deixar de falar do envelhecimento precoce, falta de ar e cansaço excessivo, já que o vape afeta negativamente a função das mitocôndrias, a “usina de energia” das nossas células, principal fonte de energia celular, que a longo prazo, causa prejuízos na manutenção do metabolismo energético, na homeostase celular e na defesa antioxidante do corpo, levando à morte celular prematura e respostas inflamatórias nas células.

É necessário alertar a população geral sobre os riscos e dar real importância à conscientização sobre os riscos do consumo do cigarro eletrônico, principalmente dentre os adolescentes. Não podemos deixar que este veneno se torne uma epidemia como o cigarro foi no passado. Muita saúde a todos.

Liciana Rossi é educadora física (licianarossi@terra.com.br)

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