No curso de Datilografia asdfg (espaço) asdfg (espaço) asdfg e assim por diante, mas sempre repetido! E, no dia seguinte, a mesma coisa! Aula de datilografia com a professora Odete era assim: uma hora de aula por dia, todo final de tarde. Apenas dois alunos na sala: eu e minha irmã e as outras máquinas de datilografia vazias.
Havia quatro máquinas na sala. Nos primeiros dias, a professora ficava na sala, orientando, acompanhando, vendo se o aluno não olhava o teclado. Mesmo com um pedaço de papelão sobre ele! Com o passar dos dias, ela dava o exercício e ia preparar o jantar... Da sala, a gente sentia o cheiro de comida! E isso tudo no começo da década de 1960, pensando em trabalhar... Em Jundiaí, havia, com certeza, inúmeros cursos de datilografia. Era necessário! Afinal, quem não sabia datilografia não arrumava emprego. Me lembro de um, em frente à igreja de Vila Arens, mas não sei mais o nome. Havia a escola Remington, entre o Centro e a Ponte São João. Mas pelo valor pago e pela quantidade de aulas, estava bom demais para a gente.
E vamos lá: asdfg (espaço) asdfg (espaço). E muda a lição, vamos em frente: asdfg (espaço) hjklç (espaço) asdfg (espaço) hjklç... Lições se sucedendo, atenção nos detalhes para não perder uma informação e o teclado inteiro decorado... azsxdcfvgb... e assim vai... pulando teclas, misturando letras e formando palavras. Como se fosse no tempo do primário, onde se juntavam as letras e formávamos as palavras, aprendendo a ler e escrever... Mas aqui, a gente já sabia estas duas últimas etapas.
Faltava saber tudo do teclado e pronto: papelão que cobria as teclas era retirado... E as lições vão se complicando: tabulador, tecla para marcar tabulação, com tecla vermelha para alertar seu uso. Fixador de maiúscula, tirar e colocar papel, utilizar carbono, digitar cartas, cartas comerciais, cartas comuns... as datas, os “Prezado senhor:” E assim vai...
O gostoso mesmo do curso era o momento dos testes de rapidez. Dona Odete marcava um minuto e dava a largada... datilografa, datilografa, datilografa. “Pronto!” dizia ela. E não se podia mais mexer no teclado. “Um, dois, três, quatro... cento e vinte, cento e vinte e um... duzentos e trinta, duzentos e trinta e um... duzentos e setenta e sete, duzentos e setenta e oito... trezentos e um...” Era dona Odete contando quantos toques tinha o texto datilografado.
Cheguei a passar dos trezentos e isso era recorde, dizia ela. Mas ficava brava quando apertava a tecla retrocesso para datilografar em cima! Dizia para não fazer isso, pois era importante não errar na hora de datilografar. Curso encerrado, diploma na mão e esperando os 14 anos para buscar um emprego num escritório. Só que meu primeiro trabalho foi atrás do balcão de uma farmácia. E tive mais um momento difícil: aprender a aplicar injeção. Mas isso é uma outra história!
Nelson Manzatto é jornalista (nelson.manzatto@hotmail.com)
Comentários
1 Comentários
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CADU 19/09/2024Boa Tarde! Bem resumido de como eram as aulas de datilografia. Faltou o teste do abecedário e, para passar precisava escrever em 5 segundos... Abraços!