Um dos maiores calcanhares de aquiles do país, não é segredo para ninguém, é o famigerado Custo Brasil. Essas despesas que só existem aqui e limitam nossa competitividade são como uma bola de ferro amarrada ao tornozelo do empresário. É muito difícil disputar mercado quando as condições de competição não são isonômicas.
Infelizmente, o que já não era bom piorou. Um estudo de Fiesp/Ciesp mostrou que o custo de produção na indústria brasileira voltou a se distanciar da média internacional no pós-pandemia. Isso ocorreu depois de um período mais favorável, quando os juros básicos da economia chegaram à mínima histórica, o que terminou diminuindo o Custo Brasil.
Segundo o estudo da Fiesp/Ciesp, o Custo Brasil encarece os produtos industriais brasileiros, em média, em 20,9% (dado de 2022, o último disponível). É um patamar semelhante ao nível pré-pandemia (20,1% em 2019). Em 2020, quando eclodiu a crise da covid-19 e a taxa Selic chegou a 2%, o custo foi reduzido a 17,3% - em 2021, subiu para 17,8%. O pior momento foi durante a recessão de 2016. Naquele ano, o Custo Brasil atingiu 35,9%.
Entram nesta conta juros, impostos, logística, insumos e serviços, ou seja, despesas que independem da eficiência da empresa, pois são resultado do ambiente de negócios do país e só podem ser corrigidas pela atuação do poder público. Dito isto, fica a pergunta: que empresário consegue disputar mercado quando seu produto é até um terço mais caro do que de seus concorrentes internacionais apenas porque é produzido no Brasil? É uma situação muito desigual.
Na média histórica, que abrange o período entre 2008 e 2022, o Custo Brasil elevou o preço dos produtos nacionais em 24,1%. Desse total, metade é resultado do complexo sistema tributário brasileiro. O segundo maior impacto são os juros sobre capital de giro (5,6%), seguido dos custos de energia e matéria-prima (3,6%), infraestrutura e logística (1,3%), carga extra com benefícios (saúde, previdência privada, entre outros, 0,8%) e serviços non-tradables (aluguéis, etc, 0,5%).
Vale ressaltar: só a tributação e as elevadas taxas de juros representam 74% do Custo Brasil. Está muito claro quais deficiências têm de ser atacadas para que as empresas brasileiras possam dar um salto na competitividade.
O primeiro ponto deverá ser equacionado pela simplificação que Reforma Tributária trará, embora corramos o risco de ter a maior alíquota de Imposto sobre Valor Agregado (IVA) do mundo, em função das muitas exceções. A questão dos juros absurdamente altos, no entanto, carece de uma solução consistente e perene. Somos, seguidamente, os campeões mundiais de juros reais.
O estudo de Fiesp/Ciesp foi feito comparando-se a produção de uma empresa com as características operacionais brasileiras funcionando no ambiente econômico do Brasil e a mesma empresa em um ambiente econômico simulado.
Este ambiente econômico simulado representa a realidade média dos nossos 15 principais parceiros comerciais. São eles: China, EUA, Alemanha, Argentina, Coreia, Japão, Itália, França, México, Índia, Espanha, Reino Unido, Suíça, Chile, Canadá. Este grupo responde por 75% da pauta de importados de bens industriais brasileiros e por 71% do PIB mundial.
Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)
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