Com seu cajado de pastor para o Reino do Céu, Dom Arnaldo Carvalheiro Neto, nosso bispo diocesano, chegou à Pastoral da Mulher/ Magdala, no último dia quatro de setembro, acompanhado do Padre Márcio Felipe de Souza Alves, diretor espiritual da entidade. Presença marcante não pelo cargo, mas pelo olhar que não empurra, não exclui, mas abraça as pessoas do jeito que são, com suas angústias e clamores, com suas histórias muitas vezes quebradas desde a infância, com sua alma marcada pelo preconceito, como já aconteceu em espaço sagrado.
Há olhares que ferem o coração, que afastam, que arrastam de volta para as margens ébrias e soturnas, orquestrados por aqueles que usam a carne humana a seu bel prazer ou a vendem ou revendem.
Dom Arnaldo chegou em terra onde passam ou já passaram pegadas de cabarés, de zonas de confinamento, de bares escusos, do cais, das boates embaçadas... Chegou preocupado apenas, assim como acontece com o Padre Márcio Felipe, em anunciar o Misericordioso, que retira dos pântanos sem se preocupar que o barro escorresse nele, assopra as dores e coloca para repousar no centro de um lótus, ouvindo, cantando e sorrindo. Foi assim que tratou cada uma das mulheres presentes, seus filhos e os que estão à frente da Pastoral/ Magdala. Aguardávamos sua presença em meio a nós, tão bem preparada pelo Padre Márcio Felipe. Não é do escandalizar-se, mas do iluminar. Que bem nos fez!
Atento aos sinais de onde se encontra. Durante sua fala, notou que uma das crianças, que vem com a mãe à reunião, encontrava-se impertinente. De imediato se pôs de pé e nos ensinou uma música com gestos. Foi uma festa. Improvisou-se para agradar os pequeninos.
Integrantes da Pastoral se manifestaram em um grupo próprio no WhatsApp. Consideraram-no abençoado e uma delas, a Teresinha, que testemunhou o quanto lhe faz bem o contato com o que é de Deus, como o do Carmelo São José, escreveu: “Quando a pessoa é do bem, não adianta ficar imaginando como é, já se sente aquela energia boa, o brilho que tem o bispo naquela face linda. Que amor de ser humano!” Expressou a opinião de todas. A Silvana fez o que ele havia dito: ajoelhou-se em seu quarto e clamou a Deus para ajudá-la com seu fardo do momento e se sentiu aliviada. Ou seja, Dom Arnaldo foi de olhar sem barreiras, sem curiosidades, mas sim de olhar que eleva e anuncia o Bom Pastor.
No início da visita, foi apresentada, por iniciativa do Padre Márcio Felipe, uma linha do tempo com o trabalho desenvolvido. A Pastoral completa, em 12 de outubro, 42 anos, e a Magdala, em 22 de novembro, 29. São muitos acontecimentos de Deus nessa história, que Ele fez e faz conosco. Em seguida, foi o convívio, muito enriquecedor, com todas e todos.
Terminada a explanação, Dom Arnaldo afirmou que além dos quatro Evangelhos, há outros escritos pela vivência das atitudes e do que disse Jesus. Que nós também escrevíamos um Evangelho. Emocionei-me!
Ao final, a Tetê, em nossa companhia há décadas e sabe que o prédio é da Mitra, lhe disse: “Não nos tire esta casa, Senhor Bispo! Ela é nosso porto seguro”. Ouviu com um olhar carinhoso e um abraço: “Jamais. Ela é de vocês!”
E, nós, Dom Arnaldo, ovelhas de seu rebanho, nos colocamos com alegria e bem-querer, sob seu pastoreio.
Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)