OPINIÃO

O acesso do Paulista FC e suas nuances


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Vitórias fazem o torcedor esquecer de todos os problemas. Vencer é importante, é bom, é gostoso e inflama o ego.

Há conquistas que orgulham e se eternizam. Há outras que são momentâneas. E há ainda aquelas enganosas...

1) Quando o nosso querido Paulista FC conquistou a Copa do Brasil, tal fato se tornou memorável. Afinal, foi a maior glória do nosso Tricolor Jundiaiense. Essa é a conquista que se eternizou.

2) Quando o Galo da Japi conquistou a Divisão Especial em 1984, voltando assim para a Primeira Divisão de São Paulo, a alegria durou pouco tempo. Foi bom enquanto durou, pois caímos em 1986. Essa é a conquista momentânea.

3) Quando o Tricolor da Terra da Uva conquistou o acesso na semana passada para a A4 (e provavelmente levará o título da "Bezinha" no próximo sábado, com transmissão ao vivo da Rádio Difusora e cobertura do Jornal de Jundiaí), festejamos como uma Copa do Mundo! Para muitos, um renascimento. Para outros, não fez mais que a obrigação. Essa é a conquista enganosa. E explico:

Não estamos voltando para a A1, nem conquistando acesso ao Brasileirão. Estamos saindo da última divisão regional, onde jogamos num torneio dos 17 piores times profissionais do estado (cuja chave de 5 times classificava 4). Algumas agremiações eram praticamente amadoras. Conquistar o título da 5ª divisão (como fará) é o mínimo que o Paulista poderia fazer. Temos que parabenizar a diretoria pelo feito, mas sem esquecer (pois seria um fato de mascaramento da situação): foi essa mesma diretoria que colocou o time na última divisão regional. A mesma que ainda está em descrédito com o torcedor mais lúcido, devido ao episódio do investidor milionário às vésperas da eleição do presidente (e que não vingou) ou ainda de outras tantas críticas.

Os momentos de sorrisos do torcedor fazem esquecer os momentos de decepção. É natural para o mais apaixonado, e isso faz com que se esqueçam todos os erros, as dívidas, os procedimentos questionáveis.

Festejemos o acesso, mas lembremos: ganhar a última divisão é muito pouco para a grandiosidade do Paulista. Aplaudamos os jogadores e o treinador Fausto, pois eles foram os responsáveis. Mas... calma! Não nos acomodemos. Todo o trabalho de reconstrução do Galo deve ser discutido e rediscutido.

Para o torcedor mais jovem, vale relembrar a história: o Brasil estava há 24 anos sem ganhar uma Copa do Mundo. Em 1994, a Seleção Brasileira foi aos EUA desacreditada, classificando-se na bacia das almas contra o Uruguai, graças ao Romário (compare: o Paulista começou mal o campeonato, estava desacreditado).

Nessa mesma Copa, aos trancos e barrancos, o Brasil foi passando de fase, no Mundial considerado como o de mais baixo nível técnico da história. Não é algo muito parecido com o ocorrido com o Paulista? Qual partida encantou os torcedores? Tirando as goleadas contra os fraquíssimos Manthiqueira e Barcelona Capela, foi a mesma situação.

Enfim, em 94, chegamos na final e levamos o título. Igualmente ao Galo, 30 anos depois. Naquela oportunidade, todas as críticas à nefasta administração Ricardo Teixeira foram esquecidas e/ou apagadas pela festa. Igualmente aos mais aficionados hoje, esquecendo que o presidente do Paulista continua sendo Rodrigo Alves, criticado pela questão administrativa.

Rafael Porcari é professor universitário e ex-árbitro profissional (rafaelporcari@gmail.com)

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