OPINIÃO

Mudança de vida!


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Sentiu uma dor forte no peito. Apoiou-se no encosto da cadeira para se manter em pé. Quis gritar por socorro, mas o grito de dor foi maior e seu corpo deslizou, num pouso forçado no chão. A noite caía lá fora e a chuva forte avisava que não iria parar tão cedo. Relâmpagos e trovões misturaram-se ao grito de dor, enquanto a energia elétrica deixou o ambiente na escuridão.

O gerador demorou ainda cinco minutos para ser ligado na empresa e, como ninguém podia ir embora, mesmo com o expediente encerrado, por causa da chuva, o corpo estendido no chão, na sala da presidência, acabou sendo descoberto pela secretária da diretoria e o ambiente mudou de preocupação com a chuva para a apreensão com o que teria acontecido no local. Quando o médico da empresa, chamado às pressas e que, por sorte, estava ali por causa da chuva, constatou o infarto, o chamado da ambulância se fez necessário.

Mas não se pode dizer que o destino prega peças às pessoas, pois, por causa da chuva, as principais ruas da cidade estavam congestionadas. Dois acidentes na avenida de acesso à empresa atrapalhavam qualquer solução para a chegada de socorro. Uma maca do ambulatório ajudou a ajeitar o corpo do diretor infartado e havia a certeza de que não era fatal! Mas havia o alerta de que o fato poderia se repetir e isso preocupava as poucas pessoas ali presentes. Nos corredores e no pátio da empresa, o movimento já era grande, com funcionários indo em busca de seus lares, ignorando o que acontecia no prédio da administração.

Encaminhado ao hospital e tendo recebido atendimento, chamou o médico da empresa para saber como repercutiria entre os funcionários o que lhe acontecera. Após saber que os 200 funcionários em serviço na hora tiveram a informação e que apenas o médico, sua secretária e mais um diretor aguardaram notícias, sentiu que era hora de mudar de postura. Refeito da enfermidade e tendo retomado o trabalho, logo no primeiro dia deixou sua sala e percorreu todas as repartições cumprimentando cada um dos funcionários e se desculpando por não prestar atenção na existência deles.

Ao refletir que a vida era curta e que podia se acabar de repente, sentiu que a fraternidade e a partilha são essenciais para um mundo melhor. E mudou! As portas de sua sala passaram a ficar abertas a todos os trabalhadores e os finais de semana se transformaram em encontros de amigos, cada um dividindo a alegria de viver com o outro.

Nelson Manzatto é jornalista (nelson.manzatto@hotmail.com)

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