Já imaginou colocar os principais candidatos à prefeitura de uma cidade lado a lado para responderem a uma série de perguntas de alunos do ensino médio de uma escola? Pois foi exatamente isso o que aconteceu no último dia 23 de agosto, no Colégio Domus Sapiens, em Jundiaí.
Quando soube da ideia, fiquei muito animado. Há oito anos, eu coordenava um projeto de jornal-laboratório na Unifaccamp, em Campo Limpo Paulista, chamado O Jornaleiro. Na ocasião, em 2016, meus alunos de jornalismo sabatinaram quatro dos cinco candidatos à prefeitura campolimpense. Vale a pena gastar um ou dois parágrafos para contar uma anedota sobre essa sabatina na faculdade.
Em 2016, havia cinco postulantes à prefeitura em Campo Limpo Paulista e nosso jornal-laboratório queria fazer algo com isso. Convidamos os cinco candidatos, um a um, a serem entrevistados pelos alunos-jornalistas em um programa gravado e retransmitido pelas redes sociais. Todo mundo se envolveu no projeto: alunos de Publicidade ficaram responsáveis pela divulgação da sabatina; os alunos de Rádio e TV, pela parte técnica da gravação; e, naturalmente, os alunos de Jornalismo, pela entrevista.
Tínhamos regras bem específicas que seguiam os modelos de sabatinas políticas, ou seja, todos os candidatos teriam o mesmo tempo para responder a cada uma das perguntas selecionadas pelos alunos: 90 segundos. Isso não deixou um dos candidatos confortável e, na semana das gravações, ele desistiu de participar, unindo-se ao candidato à reeleição, que também se negou a ser sabatinado.
O candidato que cancelou a participação na última hora foi o Dr. Japim, na época no PROS, líder das pesquisas até então. Mas, assim como ele pulou fora, acabou voltando atrás e decidiu participar da sabatina. Felizmente, ainda havia tempo para gravar sua participação. O fato é que ele venceu as eleições com 12.658 votos, contra 12.646 do segundo colocado. Foram apenas 12 votos de diferença e, enquanto ninguém me provar o contrário, esses 12 votos foram conquistados graças à sua presença na nossa sabatina, que teve um alcance considerável nas redes na época, com mais de 2 mil visualizações.
Mas o mais legal de tudo isso foi o envolvimento dos alunos. Eles estavam completamente imersos no projeto e no cenário político da cidade. Muitos me disseram, após a sabatina, que era a primeira vez que estavam votando com 100% de consciência em alguém, pois tinham estudado cada um dos candidatos, suas propostas e as respostas que deram na sabatina.
Por isso fiquei animado quando fui chamado pela coordenação do Domus para ajudar os alunos do Ensino Médio a elaborarem perguntas para os candidatos à prefeitura de Jundiaí. Durante duas semanas, nas aulas de sociologia, tratamos de entender quem eram os candidatos, quais eram suas propostas e como pensavam a cidade. Após esse exercício, discutimos em sala de aula qual seria a pergunta ideal que representasse os anseios da turma.
Além de ajudar os alunos nessa tarefa, fui convidado a mediar a sabatina. Diferente da sabatina de 2016 com o jornal-laboratório, desta vez a entrevista com os candidatos seria ao vivo, com todos eles juntos dividindo o mesmo palco. Ali, na frente de todos os alunos do Ensino Médio das duas unidades do colégio, Higor Codarin (PSOL), José Antônio Parimoschi (PL) e Ricardo Bocalon (PSB) tiveram que responder a uma série de perguntas elaboradas pelos próprios estudantes e conhecer de perto as preocupações daqueles jovens. Importante ressaltar que Gustavo Martinelli (União Brasil) foi convidado, mas não compareceu.
Enquanto eu estava na mediação dos trabalhos, pude observar nos rostos dos alunos o mesmo olhar curioso dos meus alunos de oito anos atrás. Por causa do tempo, poucos puderam fazer perguntas, mas aqueles que estavam "apenas" na plateia participaram ativamente da sabatina. Entre uma resposta e outra dos candidatos, houve cochichos e trocas de ideias entre os estudantes, que avaliavam cada uma das falas com critério e muito entusiasmo.
Depois da sabatina, tive a mesma curiosidade de perguntar aos alunos o que eles acharam, e recebi como resposta, entre outras coisas, a satisfação e o privilégio de poderem participar de um momento importante para a política da nossa cidade.
"Professor, me lembrou aquela sua aula em que você falou sobre deixarmos de ser súditos para sermos cidadãos". E eu, feliz, concordei com a cabeça e disse em alto e bom tom: "Cidadania começa na escola". E quem sabe um dia isso não vire prática comum em todas as escolas da cidade?
Conhecimento é conquista.
Felipe Schadt é jornalista, professor e cientista da comunicação (felipeschadt@gmail.com)