O Brasil possui, desde 2009, a lei (12.187), que estabelece a Política Nacional sobre a Mudança do Clima. Mas, como tudo em nosso país, a lei está ali, pouco efetiva, não-articulada e sob o risco de se manter intocada, apesar da iminente urgência climática que vivemos. Nesta última semana, assistimos horrorizados aos incêndios no interior do estado de São Paulo, com imagens dramáticas de Ribeirão Preto e Região, onde a fumaça impregnou cidades e a consequente fuligem lotou os pronto-socorros. Em Jundiaí e Região, o dia virou noite e parecia que assistíamos a uma saga de "Duna", o best-seller de ficção, em que até a última gota de água era disputada pelos habitantes remanescentes dos planetas.
A primeira atitude que um governo municipal inovador se antecipa à catástrofe é criar um plano de mitigação climática consistente. Particularmente, Salvador é um exemplo nisto. Seu plano de mitigação climática enfrenta a necessidade de descarbonização, transferência de moradores de zonas vulneráveis e a diminuição das emissões de GEE, com uso de transporte público e ciclovias.
É verdade que não basta um plano, mas seu cumprimento de metas ano a ano. Planejar é um primeiro passo, mas medidas efetivas dependem de orçamento e priorização por parte dos governos eleitos, quer seja municipal ou estadual. Não à toa vimos a tragédia anunciada de Porto Alegre acontecer, já que alertas foram emitidos, sem efetiva ação, com o agravante de o governador tucano ter apoiado a flexibilização de centenas de leis ambientais. Em São Paulo, duas novas represas de água estão sem execução e o atual governador prometeu iniciar as obras. Entretanto, não vimos uma discussão efetiva do setor público sobre a descarbonização da frota e a transferência do modal rodoviário para o férreo, já que 90% das emissões vêm do transporte de carga. Enquanto os governos batem cabeça, o setor privado está avançado na preparação de seu plano de mitigação. A Klabin, por exemplo, tem, em seu último relatório de sustentabilidade, a mensuração de como a mudança climática pode afetar o preço de suas ações na Bolsa de Valores.
Mas a empresa não está à espera e já realiza inúmeras ações de transição energética, sendo eficiente no uso e reúso de água e na geração de energia limpa, além de outras ações ambientais. Por fim, para não ficarmos inertes diante do aquecimento global (em Londres, o mar vai subir 24 cm e o hemisfério Sul será o mais afetado, com centenas de milhões de vítimas, prevê a ONU), é preciso que planos passem a ações efetivas através de uma boa governança pública. Utopia? Esperamos que não, pois até agora os ambientalistas eram tachados de porta-vozes do apocalipse. Agora, o apocalipse está à espreita, bem à frente de nossos olhos, todos os dias nos noticiários.
Ariadne Gattolini é jornalista e escritora, pós-graduada em ESG e Sustentabilidade Corporativa pela FGV e editora-chefe do Grupo JJ.
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