OPINIÃO

A urgência é semear


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Eleições estão chegando. As promessas eleitorais precisam contemplar o assunto mais sério de que a humanidade pode se ocupar: as emergências climáticas.

2023 foi o ano mais quente da História. Só que 2024 está batendo todos os recordes. E o que faz com que a temperatura da Terra aumente de maneira assustadora? Uma série de causas. A emissão excessiva de gases causadores do efeito estufa, mediante a utilização de combustíveis fósseis, à base de petróleo. A energia estacionária, pois quanto mais necessitamos de energia elétrica, mais o mundo se aquece. Por fim, mas não menos importante, a exagerada produção de resíduo sólido. Aquilo que antigamente chamávamos “lixo” agora é assim chamado, e com razão, porque quase tudo – ou praticamente tudo – o que se descarta possui algum valor.

Quando a civilização atinge um nível superior ao nosso, a logística reversa funciona. Ou seja: quem fabrica algo que tem um ciclo de utilização é obrigado a acompanhar esse ciclo e, ao seu final, dar destinação correta ao que sobrar. É o que acontece no Primeiro Mundo. Rico não perde dinheiro. Ao contrário: sabe fazê-lo crescer. Aqui, não. É o Poder Público que, com o dinheiro do contribuinte, gasta quantia extraordinária para varrição e coleta de resíduo sólido.

Mas algo que é possível fazer para reduzir a temperatura e evitar mortes, já que o calor mata mais do que o frio, é devolver à natureza as árvores que dela foram subtraídas por insensatez, insensibilidade, ignorância ou insanidade.

Temos aqui a nossa preciosa Serra do Japi, mas é fácil enxergar de longe que há espaços que foram degradados. A vegetação que ali estava precisa ser recomposta. Para isso, a Prefeitura deve servir-se de metodologia praticada em vários lugares. Na área devastada de São Sebastião e, mais recentemente, no Rio Grande do Sul, flagelado com as intensas chuvas de maio.

Uma operação aérea lançou ali mais de cinco milhões de sementes para recuperar a vegetação de áreas atingidas. Dois helicópteros do Exército e um da Polícia Rodoviária Federal sobrevoaram a região e distribuíram sementes em pequenas buchas de papel germinativo, matéria biodegradável, para facilitar a absorção e a germinação.

A Ambimar, empresa ambiental, também faz esse arremesso aéreo, servindo-se de drones. Cápsulas de medicamento que não seguem o padrão são destinadas a abrigar sementes e fertilizantes. Espécies nativas são próprias para repovoar áreas em que as grandes árvores desapareceram.
A árvore faz com que haja redução de cinco a dez graus na temperatura. Faz com que a água desaparecida reapareça. Ocasiona chuva. Equilibra o microclima. Árvore é tudo o que é bom.

Esse é um programa que deveria constar do projeto de gestão de quem se dispõe a assumir a Prefeitura de uma cidade que tem o privilégio de contar com a Serra do Japi, último remanescente da Mata Atlântica na região. E mostrar preocupação com a preservação daquilo que não foi obra humana, mas oferta gratuita da natureza, que cabe às gerações atuais manterem o quanto possível intacta, para que as gerações do amanhã também usufruam dela.

Pode ser que nem toda a cidadania considere essa questão a mais séria, a mais grave, a mais importante. Mas é, sem dúvida, a mais urgente. A Terra está doente. Não cuidar dela é chamar catástrofes que já ocorrem no restante do globo e que, seguramente, podem acontecer aqui também.

José Renato Nalini é Reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)

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