A expressão "Geração Sanduíche" descreve a situação de muitos adultos que se veem no meio de duas gerações de responsabilidades: seus pais idosos, seus filhos e/ou netos. Esse fenômeno tem se tornado cada vez mais comum em sociedades com altas taxas de envelhecimento populacional e mudanças nas estruturas familiares tradicionais. O conceito abrange uma complexa atividade diária de desafios, desde a sobrecarga emocional até a gestão de múltiplas tarefas que frequentemente resultam em estresse e esgotamento.

Os membros da “Geração Sanduíche”, tipicamente adultos de meia-idade, enfrentam uma carga pesada ao tentar equilibrar as demandas de suas vidas profissionais, pessoais e familiares. Eles não apenas precisam gerenciar suas próprias responsabilidades, como manter um emprego e cuidar de sua casa, mas também são obrigados a oferecer apoio a seus pais em idade avançada. Isso pode incluir assistência financeira, cuidados médicos, apoio emocional e até mesmo a gestão de questões legais relacionadas ao envelhecimento, como testamentos e poderes legais.

Ao mesmo tempo, esses indivíduos também têm que lidar com as necessidades de seus filhos, que podem variar desde cuidados básicos até suporte educacional e emocional. Os filhos podem exigir atenção constante, atividades extracurriculares e cuidados médicos, o que coloca ainda mais pressão sobre os pais já sobrecarregados com as necessidades de seus próprios pais.

A sobrecarga de responsabilidades na Geração Sanduíche pode ser física, emocional e financeira. Em termos físicos, o cuidado de idosos pode ser exaustivo, especialmente quando envolve mobilidade reduzida, doenças crônicas ou neuro cognitivas. Muitas vezes, isso exige visitas regulares a médicos, administração de medicamentos e, em casos extremos, assistência diária, ou até mesmo assistência 24h. Para os filhos ou netos, as demandas podem incluir desde atividades escolares até apoio em momentos de dificuldade emocional e mudanças na vida.

Em termos emocionais, os cuidadores familiares frequentemente enfrentam um estresse significativo. A preocupação constante com o bem-estar de ambos os pais e filhos pode levar a um estado de ansiedade. Além disso, a sensação de culpa por não conseguir dedicar tempo suficiente a cada parte da família pode gerar um ciclo de estresse e insatisfação pessoal.

Financeiramente, a situação pode ser ainda mais desafiadora. O custo de cuidar de um familiar pode incluir despesas com cuidados médicos, assistência a longo prazo ou adaptações na casa para atender às necessidades especiais, medicamentos, dieta especial e até mesmo acompanhantes ou cuidadores. Para muitos, isso representa um fardo significativo, especialmente quando combinado com os custos associados à criação de filhos e netos, como educação e atividades extracurriculares. As demandas financeiras podem levar a um equilíbrio precário entre a manutenção das finanças pessoais e a necessidade de proporcionar suporte a ambas as gerações.

Além dessas sobrecargas, a Geração Sanduíche muitas vezes enfrenta um dilema de tempo. Com a necessidade de equilibrar uma carreira e as responsabilidades familiares, pode ser difícil encontrar tempo suficiente para cuidar de si. Esse desequilíbrio pode levar a problemas de saúde mental e física para os cuidadores, pois a falta de autocuidado é uma consequência comum da sobrecarga constante.

É crucial reconhecer e abordar os desafios enfrentados por essa geração para promover um sistema de apoio mais eficaz. Políticas públicas que ofereçam suporte financeiro, serviços de cuidados de saúde acessíveis e programas de alívio para cuidadores familiares são fundamentais para aliviar parte dessa carga. Além disso, o reconhecimento social da importância do papel dos cuidadores familiares pode contribuir para uma maior compreensão e apoio à sua situação, oferecendo recursos e redes de suporte para melhorar os efeitos dessa sobrecarga.

A Geração Sanduíche enfrenta um complexo conjunto de desafios ao tentar equilibrar as demandas de cuidar de seus pais idosos, de seus filhos e netos. A sobrecarga física, emocional e financeira, com a dificuldade em encontrar tempo para o autocuidado, destaca a necessidade urgente de apoio e compreensão para aqueles que desempenham esses papéis cruciais nas estruturas familiares modernas.

Edvaldo de Toledo é enfermeiro, especialista em Gerontologia e Geriatria, apresentador do IssoPodAjudar Podcast do Jornal de Jundiaí (atendimento@edvaldodetoledo.com.br)