Quando eu entrei na faculdade de jornalismo, lá no já longínquo 2007, ouvi um professor falar sobre obituários no jornalismo, aquela nota que se dá quando alguém morre. E durante a explicação ele falou: "Existem personalidades que são tão importantes que os seus obituários já estão prontos só esperando elas morrerem, porque imagina esperar o Silvio Santos morrer para começar a escrever alguma coisa?". Eu ri por dentro: "Como assim o Silvio Santos morrer?"
Eu e, me arrisco a dizer, o Brasil inteiro que cresceu e viveu a televisão com ele lá dentro aos domingos, não estávamos preparados para a sua morte que aconteceu no último sábado (17). Parecia uma lenda essa coisa do Silvio morrer. Como pode morrer uma pessoa que é imortal?
Eu não vou chover no molhado, tá legal? Não vou ficar falando sobre sua vida e obra vastíssimas. Diferente do que ensinou meu professor, eu não tinha o obituário do Silvio pronto.
Mas eu aprendi a amar o Silvio através dos olhos dos meus avós maternos que não saiam da frente da TV aos domingos. Meus avós eram aqueles tipos de pessoas que tinham Carnês do Baú, Tele Senas e que mandavam cartas e faziam ligações na esperança de ganhar alguma coisa ou participar de um de seus programas.
Minha mãe herdou esse sentimento pelo Silvio e nunca escondeu o desejo de participar do programa A Porta da Esperança. Já eu cresci me imaginando jogando o Show do Milhão e, claro, levando a maletinha com barras de ouro que valem mais do que dinheiro.
Uma vez resolvi passar um trote para minha avó. Como eu achava que imitava o Silvio Santos (o personagem mais imitável do mundo), liguei para ela dizendo "Alô, dona Antônia dos Santos? Você sabe quem tá falando?" Do outro lado da linha minha vó entrou em choque quando seu neto imitador pediu para ela ligar a TV no canal 4 pois ela estava ao vivo no Programa Silvio Santos. Ela imediatamente devolveu "Mas hoje não é domingo". Fim do trote.
Na escola, todo mundo achava que eu tinha chances de ser famoso. Deveria ser pela minha principal característica: eu era exibido. Mas eu sustentava a responsabilidade de ser a celebridade da turma. E isso era tão sério para meus amigos que uma das minhas amigas, a Angélica, me fez um pedido: "Quando você for famoso, você me apresenta o Silvio Santos?". Eu concordei na hora, mas mal sabia eu que primeiro, eu não seria famoso e segundo, ela conheceria o Silvio Santos sem precisar da minha ajuda. Ela, como outras tantas meninas e mulheres rechearam o auditório do dono do SBT, um privilégio só para o sexo feminino.
Inclusive tem várias histórias de homens que se vestiam de mulher para poder estar na plateia de Silvio Santos. Ele, visionário como sempre, entendia que uma plateia só de mulheres era muito mais eficiente no quesito animação. Para ele, a presença de homens inibem as mulheres e por isso seu auditório era reservado exclusivamente para elas.
Mas todo mundo topava tudo para ver o maior comunicador do país de perto ou, de alguma maneira, ser notado por ele. E não importa o quão gigante e famoso você fosse, na frente do Silvio, você sempre se comportava como um garotinho que estava conhecendo seu ídolo maior.
E ele era gigantesco. Muito mais que o Rei da TV (título que pertence a Assis Chateaubriand, o Chatô, responsável por trazer a TV para o Brasil). Silvio era uma espécie de semideus da Televisão e semideuses são imortais. Por isso ninguém nunca conseguiu imaginar ele morrendo.
Era comum você entrar em conversas no qual o tema era: "Quando o Silvio Santos morrer, o país pára!". Mas o Silvio não vai morrer. Morre o Senor Abravanel, homem, empresário e dono do SBT. Vive para sempre o animador dos domingos de toda família brasileira.
Silvio Santos é tão genial que resolve ir num sábado, afinal ele nunca deixaria um domingo triste.
"... do mundo não se leva nada. Vamos sorrir e cantar!"
Conhecimento é Conquista.
Felipe Schadt é jornalista, professor e cientista da comunicação (felipeschadt@gmail.com)