Descobrir a vinda de um filho é sempre uma grande surpresa. Para a maioria, um misto de felicidade e medo da mudança que atinge a rotina do dia a dia. Contudo, será que o sentimento ao descobrir uma paternidade muito jovem e depois com uma idade mais ‘avançada’ é o mesmo?
Pais que tiveram o primeiro filho por volta dos 20 anos e depois outro perto dos 40 anos – ou até mais – contam sobre a experiência da paternidade em diferentes fases da vida.
O eletricista Amarildo Pereira Moura, hoje com 62 anos, é pai de 5 filhos. O primogênito veio aos 20 anos e o caçula aos 43. “Fui pai pela primeira vez aos 20 anos. Depois mais três vezes na faixa dos 20 também, aos 22, 24 e 27. E a última, a única planejada, aos 43 anos”, conta.
Amarildo afirma que a paternidade é bem diferente aos 43 anos. “Acredito que a maior dificuldade em ser pai nessa idade é ter um recém-nascido com todas as suas necessidades com a idade mais elevada. Ao mesmo tempo, é uma alegria enorme mais uma vidinha que começa e vem para mudar completamente a rotina.”
Apesar de acreditar que é melhor ter filhos mais jovem, o eletricista afirma que foi mais fácil criar um recém-nascido aos 43 anos. “Aos 43, com experiência e convivência com situações adversas acredito ser mais fácil. Porém, o sentimento da paternidade é o mesmo, o amor por eles é o mesmo em qualquer fase da vida”, ressalta.
O engenheiro de produção Diego Guimarães Lara ainda não chegou aos 40, mas é outro exemplo de paternidade em diferentes fases da vida. Hoje, com 38 anos, foi pai pela primeira vez aos 22 e pela segunda aos 36 anos. “O meu primeiro filho foi planejado, o segundo, o JP, não foi planejado, porém, não era algo que não estávamos esperando. Minha esposa se sentia muito frustrada com a expectativa que não se concluía, por isso optamos por apenas ‘deixar acontecer’", conta.
Diego revela que aos 22 anos não possuía tanta maturidade para ser pai. “Hoje eu sinto que aos 22 anos eu não possuía maturidade suficiente para entender por completo o que é a paternidade, sinto que cometi muitos erros com meu filho. Para ser sincero, às vezes, por mais que eu sempre o amei, me sentia mais como um irmão do que como pai. Em alguns aspectos, eu sinto que fui egoísta e era incapaz de o tornar prioridade em 100% do tempo.”
“E aos 36 anos, para ser sincero, não acho uma definição melhor do que: ‘tem um pedaço meu correndo pela casa’. Se eu dizer que eu amo mais o caçula, eu estarei mentindo, são formas de amor diferentes. Enquanto com o meu filho mais velho eu sentia que era uma ‘obrigação’, com o caçula é algo tão natural que eu não noto e não sinto isso. Os anos e os erros e acertos com o mais velho foram fundamentais para moldar o que eu sou hoje. Do ‘egoísmo’ que sentia antes, hoje me dedico 24 horas para ele. A decisão que melhor representa isso é eu ter decidido mudar de carreira para conseguir seguir a rotina dele (Diego é formado em engenharia, mas hoje é entregador). Confesso que não me arrependo em momento algum em pausar a minha carreira para ver ele crescer e desfrutar cada segundo com ele”, afirma.
Sobre ter uma idade certa para ser pai, o engenheiro acredita que os exemplos moldam os pais. “ Meu pai no meu desenvolvimento sempre fez de tudo pela família, porém, isso o mantia distante e pela criação que meus avós deram a ele, dificilmente ele demonstrava afeto. Para me tornar o que sou hoje, cometi muitos erros e acertos nos longos desses 16 anos, o ponto de virada foi a depressão que adquiri em 2019, o que me fez repensar e mudar a forma que eu interagia com as pessoas e os meios de apresentar afeto. Ambientes familiares onde há demonstração de afeto e clareza nas ações, moldam pais mais conscientes, mesmo com a inexperiência e a ingenuidade que a idade proporciona. A idade nunca irá afetar a maturidade afetiva.”
Para Diego, os sentimentos em relação à paternidade em diferentes idades são os mesmos, mas em intensidades e formas diferentes. “Sinto isso quando estou com os pais (na faixa dos 20 até a faixa dos 50) dos coleguinhas de sala do meu filho, sinto que todos amam seus filhos, mas cada um expressa de uma forma diferente: do mais reservado que apenas entra na sala, comprimenta a professora e chama o filho para ir embora até a mim, que chego, sento na cadeirinha ao lado dele e ficamos brincando de massinha até sermos ‘expulsos’ da sala”, conta.
28 anos de diferença
Claudionor Miranda Lima Filho hoje tem 46 anos e está à espera do terceiro filho. O primeiro e o segundo vieram quando ele ainda era muito jovem, com 18 e 20 anos, respectivamente.
Ele descreve as paternidades de forma bem diferente aos 20 e aos 40 anos. “Com 20 anos as maiores dificuldades são a falta de conhecimento sobre a paternidade, matrimônio e estrutura psicológica para suportar todas as situações que ocorreram no mesmo momento. Filhos, relacionamento com a namorada (mãe dos filhos), afastar-se dos amigos e a necessidade de assumir responsabilidades sobre outras pessoas e duas crianças. No meu caso, transferi a responsabilidade de educar os filhos aos avós, que ficaram mais tempo com as crianças, isso gerou uma grande frustração. Mas, em contrapartida, ser pai jovem proporciona experiências divertidas, pois todos já são adultos e temos um bom relacionamento, tornando os momentos mais gostosos, viagens, gostos alimentares e até as baladas conseguimos fazer juntos”, conta.
Aos 46 anos, com uma gravidez planejada, Claudionor sente que a maior dificuldade é em relação ao tempo. “Diria que é mais medo em relação ao tempo que vou ter com ela. Já as alegrias são muitas, curtir todos os momentos com mais tranquilidade e o tempo de qualidade passa a ser o mais importante. Passei a estar gestante com a minha esposa, tenho mais recursos intelectuais e psicológicos para dar suporte às necessidades dela durante a gestação. Com a minha filha (que irá nascer em agosto), a responsabilidade agora é da pessoa que eu irei educar para a sociedade, quais princípios devo desenvolver nela, para ser uma boa pessoa, para que saiba lidar com as frustrações, e as dificuldades que possam surgir”, revela.
Claudionor acredita que não existe idade certa para ser pai, mas é preciso sentir que está preparado. “Precisa estar disposto a educar e viver uma nova vida. O sentimento também é diferente, hoje, muito mais leve, mais tranquilo, me sinto mais seguro na condição de pai”, finaliza.