OPINIÃO

Será que o Brasil ainda é o país do futebol?


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Até o momento, o Brasil conquistou 16 medalhas nos Jogos Olímpicos de Paris-2024, sendo 2 ouros, 6 pratas e 8 bronzes. Nas Olimpíadas de 2020 - realizadas em 2021 por conta da pandemia e sem público - em Tóquio, o país conseguiu chegar ao recorde de 21 medalhas (7 ouros, 6 pratas e 8 bronzes), no total, e terminou em 12º lugar no ranking mundial. Na edição de 2016, no Rio, o país ganhou 19 medalhas (sete ouros, seis pratas e seis bronzes) e ficou na 13ª posição.

O futebol masculino brasileiro, que ainda é o atual bicampeão olímpico, ouro no Rio 2016, não esteve na briga pelas medalhas, já que caiu quadrangular final e a América do Sul foi representada por nossos vizinhos Argentina e Paraguai. Já o futebol feminino terá a chance de conquistar o ouro, amanhã, no jogo decisivo contra os Estados Unidos, às 12:00, garantindo a terceira medalha olímpica para nossa seleção, conquistamos a prata em Atenas 2004 e em Pequim 2008, em ambas as ocasiões fomos derrotados pelos estados Unidos. 

A natação brasileira não conquistou nenhuma medalha, chegando a apenas quatro finais e batendo um recorde negativo desde os jogos Olímpicos de Seul, em 1988, o nosso pior desempenho olímpico nos últimos 36 anos. Fora que tivemos a menor delegação de natação, desde as Olimpíadas de 2000, em Sydney. 

O Brasil conquistou medalhas em esportes de “vagabundo”, para muitos, o que calou todos estes seres preconceituosos e vêm quebrando paradigmas. Esportes de rua, como skate e surf deram um show com nossos atletas carismáticos e queridos, como Rayssa Leal e Augusto Aiko (Japinha) no skate e Gabriel Medina no surf, todos conquistaram o bronze, Tatiana Weston-Webb, do surf feminino, garantiu a prata. Na segunda participação destes esportes nas Olimpíadas, nos presentearam com 4 medalhas. Jovens destemidos, vencedores, que estão mudando o estigma destes esportes de “bolso vazios” e sem pompa, para muitos, mas que têm agora um lugar especial no coração dos brasileiros. 

Ainda tivemos ouro com a ginástica artística, Rebeca Andrade deu um grande show e no judô feminino, Beatriz Souza nos emocionou. A prata veio também na marcha atlética, com Caio Bonfim, Rebeca Andrade novamente, com mis duas, na categoria individual e no salto. Willian Lima no judô e Isaquias Queiroz na canoagem. Levamos o bronze com a ginástica artística por equipes (Rebeca, Jade, Lorrane e Julia Soares), no judô feminino com Larissa Pimenta, outra por equipes, e com a Bia Ferreira no boxe feminino. 

Enquanto escrevo, sei que ainda temos mais chances de medalhas, como no vôlei feminino, vôlei de praia, canoagem e atletismo. 

Apesar das dificuldades de incentivo, o Brasil tem conquistado medalhas em competições internacionais devido a vários fatores, como pela determinação e esforço pessoal dos atletas, que se superam pela falta de infraestrutura e apoio financeiro, numa combinação de talento, disciplina e persistência. O apoio de federações e patrocinadores têm contribuído para o sucesso dos atletas, oferecendo recursos, suporte técnico e oportunidades para competir internacionalmente.
Mas o que deveria ser feito para estimular o esporte no Brasil? Primeiramente, investir em instalações esportivas de qualidade, desde escolas até centros de treinamento de alto rendimento, uma Educação Física de qualidade nas escolas, reformulando e valorizando-a, garantindo que seja inclusiva e de alta qualidade, para identificar e nutrir talentos desde cedo. 

Incentivos fiscais e parcerias com a iniciativa privada para criar incentivos fiscais para empresas que invistam em esporte, além de promover parcerias entre o setor público e privado, poderia aumentar os recursos disponíveis para o desenvolvimento esportivo. Importante também investir na formação de técnicos e profissionais de saúde que possam trabalhar no desenvolvimento dos atletas, proporcionando-lhes o apoio necessário em termos de treinamento, bem-estar físico e mental. Promover programas que usem o esporte como ferramenta de inclusão social, especialmente em comunidades de baixa renda, pode não apenas revelar novos talentos, mas também transformar vidas.

O Brasil tem um enorme potencial esportivo, mas para alcançar resultados consistentes em maior escala, é crucial um comprometimento maior e mais estruturado por parte do governo, iniciativa privada e sociedade. O Brasil não se limita ao futebol, isso ficou bem claro nas Olimpíadas, deveríamos dar a chance às nossas crianças para que experimentem outras modalidades e que assim nasçam novos campeões. O reflexo disso com certeza vira nas próximas medalhas. Muita saúde a todos.

Liciana Rossi é educadora física (licianarossi@terra.com.br)

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