OPINIÃO

Pão do Céu


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Na missa do 18º domingo do tempo comum, as leituras foram referentes ao Pão do Céu, sendo que o verdadeiro é Jesus, que sacia nossa fome de vida e assopra os temores. Proclama o Salmo responsorial 77(78): “O homem se nutriu do pão dos anjos, / e mandou-lhes alimento em abundância. / Conduziu-os para a Terra Prometida, / para o monte que seu braço conquistou”. A I Leitura (Êxodo 16,2-4.12-15), aborda o maná enviado por Deus aos filhos de Israel, depois de ouvir sua murmuração. No Evangelho (João 6, 26.27), em seguida ao milagre da multiplicação dos pães, quando a multidão foi atrás de Jesus, Ele lhes disse: “Em verdade, em verdade eu vos digo, estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos. Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna”.

O Padre Márcio Felipe de Souza Alves, Reitor do Santuário Santa Rita de Cássia, em sua homilia, questionou-nos para quê buscamos Jesus. Seria para saciar as fomes que carregamos ligadas ao mundo? Ou para transformar o nosso coração?

Naquela sua fala, voltei a 1969. Estava com 15 anos, começara a participar dos Movimentos de Jovens da Diocese, implantados pelo inesquecível Dom Gabriel Paulino Couto. Uma tarde, repleta dos questionamentos da adolescência, dirigi-me ao Mosteiro São Bento, pedi a Deus que aumentasse a minha fé e me mostrasse o que desejava de mim. Ao encerrar minha prece, vi do outro lado, no chão, duas rosas vermelhas. Considerei um sinal de que deveria ter como minha intercessora, Santa Teresinha do Menino Jesus, de quem já era devota.

Passaram-se os anos e, inúmeras vezes, entre a luz e as trevas, tentei me saciar com coisas que brilham aos olhos do mundo. Nada disso me satisfez ou me satisfaz. Santa Teresinha, em sua espiritualidade carmelitana, ensina o esvaziar-se para que Deus nos ocupe. É dela a frase: “O que agrada a Deus em minha pequena alma, é que eu ame a minha pequenez e minha pobreza. É a esperança cega que tenho em Sua misericórdia”. Ela também ensinou a amar a Jesus no dia a dia, vendo no outro um traço dEle.

O Senhor não definiu exatamente o que desejava de mim, contudo colocou, nas esquinas de meu mundo, inúmeras pessoas vulneráveis. Meu exercício de maternagem. A ponte que me ligou a elas não foi obra minha, mas do Senhor, para me converter e para anunciar o amor dEle a elas. Percebi isso apenas quando enxerguei o meu nada.

São incontáveis histórias. Uma das últimas, a do jovenzinho que nasceu mergulhado na fumaça do crack, do qual a mãe é dependente. Desenvolveu-se com efeitos colaterais da droga. Suas reações de irritabilidade são interpretadas como rebeldia. As sequelas de sua história o fazem assim. Restou-lhe apenas, nas perdas tantas, a força no braço que ameaça e assusta.

E agora? Enquanto era criança, com seus traumas e aflições, passou mais ou menos despercebido. Havia um poder maior que o calava. Os atendimentos à sua situação e às suas necessidades, precários.

Cresceu em força e fúria. Todas as demais valentias não o impedem de agir com impulsos incontroláveis.

Observo-o nas bordas de sua história. Peço a Deus que alguém consiga fazer com que levante a cabeça e enxergue o Céu.

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista

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