No último domingo (4), grande parte dos políticos de esquerda de Jundiaí se reuniram no lendário Clube 28 de Setembro para a convenção de lançamento da candidatura para os poderes legislativo e executivo (vereadores e prefeito) da federação composta por PSB, PV, PCdoB, PDT e PT. É esse grupo que fará frente às candidaturas de José Antônio Parimoschi (PL) e de Gustavo Martinelli (União Brasil), ambos representantes da direita jundiaiense.
Ricardo Bocalon, ex-prefeito de Itupeva, foi o nome escolhido pelo PSB para representar a federação e disputar a cadeira do executivo no dia 6 de outubro. O tom do seu discurso na convenção de lançamento foi marcado pelo sentimento de esperança para tentar encorajar as lideranças à esquerda em Jundiaí irem às ruas buscar cada um dos valiosos votos que precisa para chegar à sua primeira meta dessa campanha: o segundo turno.
Além do trabalho de base, Bocalon reforçou que a narrativa de Martinelli de ser oposição ao governo não se sustenta. "Como ele [Martinelli] pode dizer que é oposição se ele é o vice-prefeito da cidade?", indagou o candidato do PSB. "Eu costumo dizer que um é o original e outro é o genérico [se referindo a Parimoschi e Martinelli] e a verdadeira oposição é a gente".
Para você que ainda está tentando entender o jogo que está se desenhando para as eleições municipais em Jundiaí, aqui vai uma rápida explicação. A situação está rachada no meio. De um lado temos o candidato apoiado pelo atual prefeito Luis Fernando Machado e pelo próprio Jair Bolsonaro, José Antônio Parimoschi, responsável pela Unidade de Gestão de Governo e Finanças da Prefeitura de Jundiaí, desde 2017. Do outro lado, temos o atual vice-prefeito, Gustavo Martinelli que rompeu com a atual gestão para ele próprio sair candidato.
A estratégia do ex-prefeito de Itupeva é muito clara: tentar tirar o vice-prefeito do segundo turno e partir para a disputa franca entre ele e o candidato bolsonarista do atual prefeito, numa emulação do que aconteceu em 2022 entre Lula e Bolsonaro.
O problema para Ricardo Bocalon é que em Jundiaí, Bolsonaro venceu Lula no primeiro turno no último pleito e as pesquisas de intenção de voto também se apresentam como um balde de água fria nos planos do candidato progressista. Exemplo disso é a pesquisa realizada pelo Instituto Vox Brasil Opinião e Pesquisa, de 17 de julho, que aponta Martinelli com 37,8% das intenções de voto, seguido por Parimoschi com 22,7%. Bocalon tem 5,7%.
O que resta imaginar, com o andar dessa carruagem, é que teremos um segundo turno entre dois candidatos que tentarão provar para o eleitor jundiaiense qual dos dois é o mais apto a representar os interesses da direita.
Com um executivo que não fugirá muito do que Jundiaí já conhece [conservador, liberal e à direita], a saída para o campo progressista é rechear a Câmara dos Vereadores de políticos de esquerda. E eu digo isso porque será preciso, mais do que nunca, uma oposição forte e que fiscalize de perto as ações de um futuro prefeito que provavelmente será de direita.
Para você ter uma ideia, o poder legislativo atual de Jundiaí não possui nenhum vereador ou vereadora que represente a esquerda, o que acaba fazendo da Câmara quase que uma casa de despacho do prefeito.
Na convenção do último domingo, os candidatos a vereador se apresentaram e dois nomes são os destaques da federação: Mariana Janeiro (PT) e Pedro Bigardi (PCdoB).
O ex-prefeito de Jundiaí, Pedro Bigardi, volta à disputa dessa vez por uma cadeira no legislativo. Sua história no executivo vem ajudando a consolidar uma história que já é bem conhecida pelo jundiaiense. Além disso, seu discurso pedindo coragem mostrou que Bigardi tem plenas condições de fazer uma oposição saudável caso seja eleito.
Já Mariana Janeiro, após números expressivos em suas duas últimas campanhas [para vereadora em 2020 e deputada federal em 2022], se mostra mais preparada do que nunca para não permitir vida fácil para seus opositores, principalmente agora que vem colecionando cargos importantes no Partido dos Trabalhadores e na própria ONU.
Entre os dois, aliás, acredito que Janeiro seja mais necessária do que o próprio Bigardi. Falo isso pela representatividade que ela terá no caso de ser eleita. É uma mulher negra, jovem e mãe em uma cidade que possui 336.423 eleitores, no qual a maioria são justamente mulheres.
É válido lembrar que existem outras candidaturas de esquerda, claro, mas que a matemática eleitoral como os coeficientes dificultam a vida de candidatos que possuem pouca mobilização ou que estejam em partidos mais isolados.
A dupla Janeiro-Bigardi desponta nesse pontapé eleitoral como a grande realidade da esquerda jundiaiense. Mas muita água ainda irá rolar embaixo dessa ponte torta. Vejamos os próximos capítulos.
Conhecimento é conquista.
Felipe Schadt é jornalista, professor e cientista da comunicação (felipeschadt@gmail.com)