HOMENAGEM

Dia do Vira-Lata: cachorros sem raça são um caso de amor

Por Nathália Sousa |
| Tempo de leitura: 4 min
Arquivo pessoal
O cachorrinho Michael Jackson fez parte da família de Edmilson por 14 anos e os acompanhava a todos os lugares que iam
O cachorrinho Michael Jackson fez parte da família de Edmilson por 14 anos e os acompanhava a todos os lugares que iam

De abandonados a popstars, os cachorros vira-latas deram a volta por cima nos últimos anos no Brasil. Antes rejeitados, hoje podem até virar patrimônio imaterial no país. Há um Projeto de Lei (1897/2023) que visa a transformar o vira-lata caramelo em manifestação cultural imaterial do Brasil. E hoje (31), Dia do Vira-Lata, data que celebra os cãezinhos sem raça definida (SDRs), muitos tutores só têm motivos para comemorar a companhia dos “caramelos”, “pretinhos”, “estopinhas”, “falsificados”, e por aí vai.

O JJ pediu aos leitores histórias com seus cachorrinhos SRD e, rapidamente, recebeu relatos de tutores. Confira abaixo algumas histórias de amor entre vira-latas e seus seres humanos.

Sem soltar a pata de ninguém

Bruna Bunsas adotou a Maria já adulta e descobriu que a cadelinha precisava de cuidados especiais, mas, na verdade, Bruna também é cuidada pela Maria. “Ela sofreu muito na rua e, quando estava em uma ONG, meu esposo adotou a Maria para minha sogra, que estava com depressão. Mas adotamos ela dia 1º de fevereiro de 2023 e minha sogra faleceu no dia seguinte. Pensamos ‘e agora? Tenho 16 gatos, como ia fazer?’”, lembra.

A dúvida, porém, foi passageira. “Não devolvemos ela, pois foi amor à primeira vista. Nessa época, ela tinha sido castrada há pouco e começou a ter sangramentos. Para a nossa surpresa, estava com TVT, tumor nas partes íntimas. Passamos por sete sessões de quimioterapia, uma luta, eu e ela chorando a cada reação. E ela me ajudou na minha depressão após esses acontecimentos. Minha companheira, amiga de 16 gatos”, conta Bruna, enfatizando que é bom adotar animais adultos.

Maria foi adotada para fazer companhia à sogra de Bruna, mas se tornou companheira dela e irmã de muitos gatos

Maria foi adotada para fazer companhia à sogra de Bruna, mas se tornou companheira dela e irmã de muitos gatos

Quem escolhe quem?

Silvia Cobeiros de Godoy ia adotar um cachorrinho, mas saiu da ONG com dois vira-latas, uma duplinha inseparável: o Barbecue e a Costelinha. “Eu sempre tive cachorros enquanto crescia, tive vira-latas e cachorros de raça. Me casei há dois anos e meu marido, que é italiano, nunca teve um pet, pois seus pais não permitiam. Decidimos que seria o tempo ideal para termos um cachorro. Inicialmente, pensávamos em um filhote, então começamos uma busca por doações nas redes sociais. Nessas buscas, encontrei um anúncio de uma cadelinha de porte pequeno, de aproximadamente três anos, que perderia seu lar temporário. Mostrei para o meu marido e verificamos que um cachorro já adulto poderia ser mais tranquilo para se adaptar a um novo lar, e que tinha uma história de vida que apreciaria mais ainda nosso amor.”

“Porém, ao conversar com a ONG, nos informaram que essa cadelinha havia sido resgatada junto com um macho, que era seu protetor, e que no dia que foram resgatados, ele se recusou a ficar longe dela. Não pensamos duas vezes e adotamos os dois. Não seria possível separar um elo tão forte quanto o que eles têm. Hoje brincamos que eles nem se lembram se um dia moraram nas ruas, pois levam uma vida de AUposentadoria, de muito amor, carinho e alguns luxos”, conta ela.

Costelinha e Barbecue são inseparáveis desde os tempos de rua, mas hoje, como Silvia diz, nem se lembram que foram abandonados um dia

Costelinha e Barbecue são inseparáveis desde os tempos de rua, mas hoje, como Silvia diz, nem se lembram que foram abandonados um dia

Amor que perdura

Edmilson da Silva teve, durante 14 anos, uma história de amor com o vira-lata Michael Jackson, que já faleceu, mas aproveitou bem o tempo com a família enquanto pôde. “MyCão Jackson, como eu gostava de chamá-lo, chegou até nós no ano de 2009. Meu irmão o encontrou na calçada e nos trouxe. Ficamos com ele e 2009 foi o ano em que o popstar Michael Jackson faleceu, daí veio o nome. Ele ficou na nossa família por 14 anos e curtiu bem sua vidinha. Passeava muito, conhecia cidades vizinhas e seus parques, foi para Jarinu, Louveira, Itatiba, Campo Limpo, foi para a Capital, Santo André e outras tantas cidades”, lembra.

Característica que costuma ser lembrada quando se fala em vira-latas, Edmilson exalta a saúde que Michael Jackson tinha. “Ele sempre foi nosso companheiro nos encontros de carros antigos que frequentávamos e ia também a eventos de shows na cidade e na região. Nosso MyCão Jackson era roqueiro. Muito tranquilo, tinha um jeitinho todo duro de andar, o que conquistava olhares de seus ‘fãs’. Ele recebia muitos carinhos das pessoas onde íamos.”

“Mas um dia tudo isso acabou, seu coraçãozinho já estava cansado. Ele nunca, nunca, tinha ficado doente. Era um cãozinho bem forte, mas seu coraçãozinho não tinha forças para bater mais. Enfim, um pequeno grande cão que tivemos em nossas vidas e que um dia nos deixou. Faleceu em dezembro de 2023 e sentimos sua falta, mas fomos e somos felizes por ele ter nos dado a oportunidade de participarmos da vida dele”, relembra.

Michael Jackson atraía a atenção de todos por onde passava e recebia muito carinho, principalmente do Edmilson e da família

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