OPINIÃO

A necessidade de repensar os Clubes Recreativos


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Nos anos 60, 70 e 80, o Brasil viveu um período de ouro para as Associações Desportivas e Culturais (ADCs), criadas por funcionários de grandes empresas. Essas associações surgiram de uma parceria frutífera entre os trabalhadores e as empresas contratantes, que frequentemente doavam terrenos e construíam sedes administrativas e campos esportivos. Na região de Jundiaí, a ADC da Sifco e a ADC do Grupo KSB são exemplos marcantes de como essas organizações impactaram positivamente a vida de inúmeras pessoas.

As ADCs não eram apenas espaços físicos; eram refúgios de lazer, cultura e convívio social. Na ADC da Sifco, onde eu e meus irmãos passamos boa parte da infância, encontramos um ambiente seguro e enriquecedor. Participávamos de atividades esportivas, culturais e sociais que nos proporcionaram momentos inesquecíveis e contribuíram para nossa formação como indivíduos. Essas associações promoviam campeonatos de futebol, torneios de vôlei, eventos culturais como festivais de música e teatro, e atividades de cunho social, como campanhas de arrecadação de alimentos e roupas. As ADCs eram pontos de encontro, onde funcionários e suas famílias podiam se reunir, socializar e fortalecer os laços comunitários.

Com o advento dos anos 90, muitas dessas associações começaram a desaparecer. Mudanças econômicas, políticas e sociais, além da reestruturação das grandes empresas, contribuíram para o declínio das ADCs. A falta de investimentos e a perda de apoio por parte das empresas levaram ao fechamento de muitas dessas entidades. Hoje, poucas ADCs ainda resistem, e é urgente um debate nacional sobre a necessidade de criar fontes de recursos para revitalizar essas associações que ainda existem. As ADCs têm um potencial enorme para promover atividades esportivas e culturais de maneira eficiente, muitas vezes com mais competência do que o próprio Estado.

O Estado brasileiro tem responsabilidades fundamentais, como o planejamento econômico, a gestão do orçamento, a saúde e a educação. No entanto, as atividades esportivas e culturais podem ser mais bem executadas por entidades que possuem uma vasta história de agremiações e uma ligação direta com a comunidade. Segundo a Lei nº 9.615/1998 (Lei Pelé), que regula o desporto no Brasil, as associações desportivas podem receber apoio financeiro e benefícios fiscais para a promoção de atividades esportivas. Além disso, a Lei nº 13.019/2014, que estabelece o Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil, prevê a possibilidade de parcerias entre o poder público e as organizações da sociedade civil, incluindo as ADCs, para a realização de projetos de interesse público.

É necessário que o Estado e a sociedade civil reconheçam o valor das ADCs e trabalhem juntos para criar um ambiente favorável à sua revitalização. Isso inclui a criação de políticas públicas que incentivem as empresas a investir novamente nessas associações e a disponibilização de recursos financeiros para a manutenção e desenvolvimento das suas atividades. O resgate das ADCs não é apenas uma questão de nostalgia, mas uma estratégia inteligente para promover a saúde, o bem-estar e a coesão social. Ao fortalecer essas entidades, estamos investindo no futuro das nossas comunidades e na formação de cidadãos mais engajados e preparados para enfrentar os desafios do mundo moderno.

As Associações Desportivas e Culturais, como a ADC da Sifco e a ADC do Grupo KSB, desempenharam um papel crucial no desenvolvimento social e cultural das comunidades. Embora muitas tenham desaparecido, é possível e necessário reviver essas entidades através de um esforço conjunto entre o Estado, as empresas e a sociedade civil. Assim, poderemos garantir que as futuras gerações tenham acesso aos mesmos benefícios e experiências enriquecedoras que marcaram nossa infância e juventude.

Marcelo Silva Souza é advogado e consultor jurídico (marcelosouza40@hotmail.com)

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