OPINIÃO

Um retrato da economia global


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O Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou, na semana passada, o novo World Economic Outlook (Perspectiva Econômica Mundial), publicação da instituição que traz análises da conjuntura econômica global. Com o ano já passando da metade, vale uma avaliação sobre como estão as perspectivas e os desafios de 2024.

Do ponto de vista do crescimento mundial, o FMI manteve sua projeção de avanço de 3,2%. As economias emergentes da Ásia seguem como o principal motor econômico do mundo, lideradas por Índia e China. A Índia deverá crescer 7% este ano e a China 5%.

Para 2025, a previsão é de avanço global de 3,3% e ligeira redução em ambos os países asiáticos (para 6,5% e 4,5%, respectivamente). Nos próximos cinco anos, porém, a projeção é de perda de dinamismo na região, com a China, moderando seu crescimento para 3,3%, bem abaixo do ritmo atual. A ver se isso se realiza e que consequências terá para o mundo.

Embora considere que os riscos permanecem globalmente equilibrados, o FMI entende que, no curto prazo, dois se tornaram mais proeminentes: a lenta desinflação nos países desenvolvidos e a questão fiscal.

Para o Fundo Monetário, a vagarosa queda da inflação pode levar os bancos centrais das economias avançadas, incluindo o Federal Reserve norte-americano, a manter os juros mais elevados por mais tempo. Isso pode afetar o crescimento global, pressionar o dólar para cima, repercutindo negativamente nos países emergentes.

O choque nos preços de energia e alimentos decorrente da pandemia impactou fortemente a inflação. Apesar de ter caído sem recessão e de os preços estarem quase no nível pré-pandêmico, a inflação ainda não cedeu totalmente. 

Os serviços estão caros e os salários, altos. Esses itens acendem um sinal amarelo na trajetória de desinflação. A inflação global este ano deve fechar em 5,9%, ante 6,7% em 2023.

Quanto às contas públicas, o FMI alerta que as questões fiscais precisam ser enfrentadas de forma mais efetiva. O documento manifesta especial preocupação com a situação dos Estados Unidos que, com pleno emprego, permanece com uma política de déficit fiscal, com riscos internos e externos.
Outro ponto de atenção, no entendimento do FMI, é o desmantelamento do sistema de comércio multilateral. A adoção de medidas protecionistas unilaterais, segundo a instituição, não traz prosperidade global e é um risco inflacionário adicional.

Nas últimas semanas, a União Europeia e os Estados Unidos impuseram nova taxação sobre carros elétricos chineses. Em resposta, a China recorreu à Organização Mundial do Comércio (OMC) questionando subsídios norte-americanos e está em conversas com a União Europeia para tentar reduzir tensões.

Em relação à América Latina, o FMI prevê um avanço do Produto Interno Bruto (PIB) de 1,9% este ano e 2,7% em 2025. Para a Argentina, a instituição projeta uma queda no índice de 3,5% em 2024 e recuperação de 5% no próximo ano.

Para o Brasil, a previsão de crescimento para este ano é de 2,1% e, para 2025, subiu a 2,4%, 0,3% a mais que a anterior. A economia brasileira tem mostrado resiliência, com mercado de trabalho aquecido. No setor formal, até maio, foram criados 1,1 milhão de empregos e a massa salarial avançou 9% no período, em comparação com o ano anterior.

Embora a indústria de transformação tenha voltado a crescer, para a Fiesp, a perspectiva de manutenção da Selic em 10,5%, até o final do ano, é um fator de risco para a continuidade de recuperação do setor que, nos últimos dez anos, terminou sete em queda. A Fiesp espera crescimento de 2,2% da produção industrial em 2024.
 
Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)

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