Em um mundo cada vez mais conectado e saturado de estímulos, o vício moderno que raramente é discutido, mas que afeta a muitos de nós, é o consumo excessivo. Seja através da internet, da comida, do álcool, ou das séries de streaming, estamos constantemente buscando por prazer temporário que, no final, pode nos causar mais mal do que bem e geralmente causa!
As telas, especialmente as de smartphones e computadores, oferecem uma quantidade quase infinita de informações e distrações. Cada notificação, mensagem ou atualização exige uma resposta do nosso cérebro, sobrecarregando nossa capacidade de atenção. Além do mais, o uso de telas frequentemente envolve a "multitarefa", como responder a e-mails enquanto assistimos a vídeos ou verificamos redes sociais, fazendo mil coisas ao mesmo tempo. Embora pareça eficiente, a multitarefa reduz a qualidade do foco e da concentração, pois o cérebro precisa constantemente alternar entre tarefas, aumentando a fadiga mental e não fazendo nada com eficiência.
A internet, com suas redes sociais e conteúdos infinitos, é uma fonte constante de dopamina, um neurotransmissor associado ao prazer e à recompensa em nosso cérebro. Cada "curtida", cada notificação em nossas redes, nos proporciona uma pequena recompensa, que nos leva a querer mais e mais. O mesmo vale para a comida, especialmente os alimentos ricos em açúcar e gordura, que ativam centros de prazer de maneira similar às drogas em nosso cérebro. Beber demais e maratonar séries no Netflix são outras formas de fuga e busca de satisfação imediata muito comuns hoje em dia.
No entanto, esse estado de consumo excessivo está literalmente fritando nossos receptores de dopamina. Quando estamos constantemente estimulando nosso cérebro, ele se adapta, tornando-se menos sensível a essas recompensas. Isso nos leva a buscar estímulos cada vez mais intensos para obter o mesmo nível de prazer, criando um ciclo vicioso que sobrecarrega nosso sistema nervoso.
As consequências vão além da simples busca por prazer. O consumo excessivo pode levar a problemas de saúde física, como obesidade e doenças relacionadas ao álcool, além de distúrbios psicológicos, como ansiedade e depressão. Nosso sono paga um preço bem alto pois a exposição à luz azul emitida pelas telas pode interferir na produção de melatonina, um hormônio que regula o sono. O sono inadequado ou de má qualidade pode afetar negativamente a concentração e o desempenho cognitivo durante o dia, afetando o nosso foco e até mesmo nossas relações interpessoais podem sofrer com essa necessidade constante de gratificação instantânea.
Para combater esse ciclo, é essencial buscar equilíbrio e conscientização. Estabelecer limites para o uso da internet, adotar uma alimentação equilibrada, moderar o consumo de álcool e encontrar tempo para atividades offline são passos importantes. Além disso, práticas como meditação e exercícios físicos podem ajudar a recalibrar nossos sistemas de recompensa e reduzir o estresse.
Para melhorar a concentração em um ambiente com alta exposição às telas, é preciso adotar algumas práticas, como estabelecer períodos específicos sem interrupções, utilizar técnicas de gestão do tempo, ajustar as configurações de notificações para minimizar distrações e criar um ambiente de trabalho que reduza a necessidade de multitarefa. Além disso, fazer pausas regulares para descanso dos olhos e garantir uma boa higiene do sono são fundamentais para manter a mente clara e focada.
Em resumo, o vício moderno do consumo excessivo é um problema real e altamente subestimado. Reconhecê-lo e tomar medidas para mitigá-lo pode nos ajudar a viver de maneira mais saudável e equilibrada, permitindo que nossos cérebros e corpos funcionem da melhor maneira possível. Muita saúde a todos.
Liciana Rossi é educadora física (licianarossi@terra.com.br)