OPINIÃO

“Qui bunitinho!”


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Três dias depois do nascimento de meu filho Tiago, o apresentamos à minha mãe, Angelina. Pouco mais de um ano antes, ela sofrera um acidente vascular cerebral e ainda vinha lutando para recuperar os movimentos do corpo e da voz…

Quando minha esposa, Rita de Cássia, tirou a manta que cobria o corpo do pequeno menino, me emocionei ao ver a reação de minha mãe. Percebi duas lágrimas voando de seus olhos. “Qui bunitinho!”, disse ela, sorrindo e chorando. Meus olhos marejaram, mas Rita foi rápida: fez minha mãe se sentar para poder carregar o pequeno neto. O oitavo de Angelina e Alcindo.

O contato de minha mãe com o último neto foi curto. Por morar em Campinas, na época, acabou ficando difícil minha vinda a Jundiaí e, por causa da dificuldade dela se locomover, os encontros com Tiago acabaram sendo apenas em ocasiões especiais, como aniversários, Natal, Ano Novo, Dia das Mães, Dia dos Pais e uma ou outra visita mais rápida.

O tempo é curto demais nesta vida para ficarmos distantes das pessoas que amamos, mas as circunstâncias, às vezes, não permitem outra situação. E a última vez que minha mãe e meu filho se encontraram, foi no segundo aniversário do menino. Foram muitas as trocas de carinhos de minha mãe, com ele, mas a frase, sempre que ela o via era a mesma: “Qui bunitinho!” Apesar da vontade de voltar a falar e andar normalmente, e a movimentar os braços, ela jamais conseguiu seu objetivo.

Foram poucas as vezes, já disse, que os dois se encontraram, mas o agora adulto, já com mais de 35 anos, Tiago tem uma vaga lembrança de dona Angelina: a bengala que a acompanhou durante os quatro ou cinco anos que viveu após o acidente vascular cerebral. Pouco mais de dois anos depois que dona Angelina se foi, quem partiu foi seu Alcindo.

Mas a vida passa, se transforma, as pessoas partem porque é assim que acontece com todos nós. Nem todas as pessoas têm as mesmas virtudes e defeitos, mas todos seres criados à imagem e semelhança de Deus e que sempre merecem nosso respeito. E Tiago viveu até a vida adulta com os pais de Rita, dona Graciosa deixou este mundo em 2008 e seu Alcides, com 94 anos partiu em.

É sempre uma alegria ver a felicidade dos outros e toda vez que Tiago chega em casa, e o vejo tirando o boné e indo procurar comida na geladeira ou o refrigerante para bebericar junto com alguma guloseima, parece que ouço o eco vindo do outro lado da casa... E a voz parece a mesma, apesar de tantos anos depois: “Qui bunitinho!”

Nelson Manzatto é jornalista (nelson.manzatto@hotmail.com)

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