A vida no circo sempre foi o sonho de muita gente. Viver viajando e vendendo arte é, de fato, uma função bastante atrativa. Mas, fora do picadeiro, os artistas circenses precisam enfrentar diversos desafios. Artistas do Circo de Roma, que estão na cidade, na avenida 14 de Dezembro, concederam uma entrevista à Rádio Difusora e falaram sobre a magia do circo e também a vida fora do espetáculo.
Acrobata aérea, Jéssica Pinheiro é de uma família circense e desde sempre se dedica à arte. "Sou tradicional de circo. Se não me engano, sou a oitava geração da minha família materna no circo. Nasci, cresci e vivo no circo há 33 anos. E acaba sendo muito fácil, porque a gente convive com aquilo, a gente vê todo dia. Às vezes, quando a gente está estudando, até pensa em ser médica, veterinária, mas não tem como. É muito difícil quem é de circo tradicional acabar saindo. Sai quando já está um pouco mais velho ou sai e acaba voltando."
Palhaço Xerebebel, Ailton Cidinei também nasceu nesse universo. "Eu sou a quarta geração da família no circo. A gente se acostuma, tem a correria do dia a dia, não conseguimos ficar parados na mesma cidade mais do que dois meses. A gente quer conhecer lugares novos, fazer novas amizades, levar alegria para novos lugares", conta.
No entanto, há ainda muito preconceito com artistas de circo, como explica Jéssica. "Acho que circense não é reconhecido como uma pessoa, um ser humano. Cada vez que entramos em uma cidade, as pessoas acham que estamos invadindo. O dono do circo paga tudo, todas as taxas naquela cidade. Como qualquer outro comércio que tenha na cidade, o circo paga por aqueles 30 dias, só que nós não temos direito a nada. Hospital, qualquer outra coisa que a gente precise, não conseguimos, é sempre tudo no particular, tudo pago. Para escola também, às vezes é muito difícil. Tem a lei que ajuda, porque não estamos roubando vaga de outra criança, nossos filhos ficam 30 dias e vamos embora, mas tem escola que não aceita, coloca empecilho, nos tratam mal, com falta de educação, e as crianças também sofrem nas escolas, porque são de circo, então sempre tem bullying", reclama.
E os artistas não trabalham só à noite. Durante o dia, fazem divulgação e outros serviços necessários, porque no circo todo mundo faz de tudo, mas, segundo Ailton, é recompensante. "Não tem como explicar. Não tem um dia que eu ache ruim. Foi no circo que meu filho nasceu, está se criando no circo. Se Deus quiser, pode chegar a praticar a minha profissão. Ele vê o pai trabalhando, fazendo apresentação do globo da morte, fazendo trapézio, então, para mim, não tem palavras."
E a magia continua viva, como conta Jéssica, entre crianças e adultos. "Os bem pequenininhos gostam do circo porque chama muito a atenção. E tem os adultos, que recordam aquela lembrança de infância. O adolescente, a gente tenta atrair, mas, com internet, a gente perde um pouco."
PAIXÃO
Ailton ama o que faz e diz que não há um espetáculo ruim para o palhaço. “O que mais me atrai é ver o sorriso no rosto de cada criança. Isso me deixa fascinado. Quando a gente está trabalhando, olha e tem aquela criança entretida, com um sorriso, olhando para você, dando tchauzinho, rindo, interagindo. Quando você termina a apresentação, a criança te dá um abraço, fala 'palhaço, gostei muito de você'. Isso, para mim, não tem preço. Às vezes, você está triste com o dia a dia e, quando chega à noite, que você se transforma no personagem, tudo o que você passou no dia, passa."
Para Jéssica, também há magia quando as cortinas se abrem. "Na vivência do circo, gosto de não ficar presa em um lugar só, estar sempre trocando de lugar, sempre conhecendo uma cidade nova. A gente acaba 'enjoando', porque não é legal a parte da mudança, a gente fica sem luz, sem água, mas é gostoso chegar a um lugar novo, ver pessoas novas. As pessoas mudam muito de uma cidade para outra e isso é muito bom. E a apresentação, a gente faz porque gosta", conta ela, e recomenda que quem se interessa pela arte pode buscar uma escola de circo para aprender.
APRESENTAÇÃO
O Circo de Roma fica na avenida 14 de Dezembro, ao lado da Havan. Os espetáculos são de terça a sexta às 20h. Sábados, domingos e feriados às 15h, 17h30 e 20h. Para este fim de semana, Xerebebel promete muitas atrações. “Vai ter a Masha e o Urso, que eu gosto, vai ter Baby Shark, que é ótimo, também adoro, vai ter os dinossauros, malabarista, contorcionista do ar, globo da morte e eu vou poder cantar a minha música também.”